Os pobres devem estar no coração da vida cristã 

Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 

O Papa Leão XIV se inspirou na declaração de fé de uma pessoa pobre e fiel na sua mensagem para a 9ª Jornada Mundial dos Pobres: “Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus!” (Salmo 71,5). E começa sublinhando que os pobres são testemunhas de uma esperança forte e confiável, na medida em que a esperança que os move “é professada numa condição de vida precária, feita de privações, fragilidade e marginalização”.  

É verdade que a pobreza mais grave é não poder contar com Deus. Se impingimos aos pobres a culpa pela própria miséria e apresentamos a eles um Deus sempre pronto a premiar “os bons” com riqueza e prosperidade, estamos impedindo que conheçam o verdadeiro Deus. Por isso, além de despertar os pobres para as causas estruturais da sua pobreza, precisamos apresentar a eles o coração e o rosto verdadeiros de Deus.  

Na sua mensagem para esse dia, o Papa nos lembra que “a pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas”, jamais encobertas ou negadas. E isso não tem nada a ver com ideologias esquerdistas ou com ativismo político, mas com o Evangelho e a vida de Jesus Cristo. Além disso, como cristãos, somos chamados a colocar sinais de esperança que testemunhem nossa solidariedade concreta e transformadora. 

Não podemos ir ao encontro dos pobres ou falar deles apenas em alguns momentos especiais do ano, como uma espécie de alívio de consciência. Leão XIV nos adverte que, para a Igreja, eles não são um passatempo. Os pobres são “os irmãos e irmãs mais amados, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria que trazem consigo, levam-nos a tocar com as mãos a verdade do Evangelho”.  

É tempo de tomar consciência de que “os pobres não são objetos da nossa pastoral, mas sujeitos criativos que nos estimulam a encontrar sempre novas formas de viver o Evangelho hoje”. Compadecer-se e ir ao encontro deles “é uma questão de justiça, muito antes de ser uma questão de caridade”.  Isso não é algo que podemos fazer ou não fazer, nem bondade nossa. Eles têm direito a esperar solidariedade dos cristãos e da sociedade. 

Por fim, o Papa sublinha que os pobres não podem estar à margem, mas devem ocupar o centro da ação pastoral da Igreja. E pede que, no espírito do Ano Jubilar, engajemo-nos em ações políticas que combatam as antigas e novas formas de pobreza, e em iniciativas de apoio aos mais pobres entre os pobres. “Trabalho, educação, habitação e saúde são condições para uma segurança que jamais se alcançará com armas”, diz o Papa. 

Tags:

leia também