Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

Com este lema, que intitula esta reflexão, a CNBB lançava a Campanha da Fraternidade 1988, com o tema: A Fraternidade e o Negro, no centenário da abolição da escravatura. Colocava-se, muito claramente, no objetivo geral, assumir com redobrado empenho a nobre luta pela justiça e contra qualquer tipo de preconceito, racismo e ou discriminação. A respeito, o Papa São João Paulo II se expressava na mensagem por ocasião da abertura:

A Campanha visa a animação pastoral da Quaresma, centrada no tema: a Igreja do Negro. Trata-se de larga faixa da população brasileira. Comemoramos, neste ano, a chamado Lei Áurea, e há uma problemática que merece solicitude pastoral, inspirado por critérios evangélicos, aderente e fiel à doutrina da Igreja acerca da dignidade da pessoa humana e da promoção dos seus direitos e tendo em vista o bem comum.

Neste campo, a Igreja repetiu a sua doutrina de sempre no Concílio Vaticano II nomeando, entre uma série de coisas infames , a escravidão, contrária ao Evangelho, que anuncia e proclama a liberdade para todos os homens, sem exceção, e explicar que a escravidão tem a sua razão última no pecado, e que têm a mesma origem os fermentos de ódio e de divisão, que alimentam os preconceitos raciais e sua proliferação em situações conflituosas e em discriminações e marginalizações (cf. GS, nn. 27,29).

Trinta anos se passaram e, na atual Campanha da Fraternidade, no texto base no nº 74, se afirma: A violência racial no Brasil é uma situação que faz supor uma forte correlação entre as três formas de violência: direta, estrutural e cultural. Os casos de violência direta parecem ser o resultado mais concreto e evidente de questões socioeconômicas históricas, além de deixarem entrever representações culturalmente produzidas e já naturalizadas a respeito da população negra, do índio, dos migrantes e, mais recentemente, também do imigrante.

 O que podemos salientar é que embora tenhamos avançado em políticas públicas afirmativas dos direitos dos irmãos(ãs) negros(as), e ampliado os espaços de participação e articulação eclesial e pastoral, a exclusão e a desigualdade são ainda uma dívida e uma brecha profunda que deixa essa população a mercê da intolerância e da injustiça. Que o Deus da misericórdia e da inclusão fraterna nos estimule a construir e edificar uma sociedade sem violência e sem discriminações odiosas. Vós sois todos irmãos!

 

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