Padre aponta as ausências sentidas na síntese do Brasil ao Sínodo 2023: “Meio ambiente, crianças, negros, indígenas e presos”

O assessor da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e padre salesiano João da Silva Mendonça Filho, membro da Equipe de Animação do Sínodo 2023 no Brasil, esteve na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de 8 a 12 de agosto, para contribuir na tarefa de realizar a síntese das contribuições enviadas da fase de escuta realizada pelas Igrejas Particulares para o Sínodo 2023. Nas entrevistas ao portal da CNBB, ao religioso coube a tarefa de falar sobre os temas transversais e as lacunas sentidas pela Comissão de Síntese nas 251 escutas diocesanas e 7 escutas de grupos específicos enviadas para a síntese nacional.

Questões transversais nos relatórios

De acordo com padre João, algumas questões apareceram como transversais. A questão da juventude é uma delas. “Há um clara alusão a isto. Sobretudo na perda dos jovens cada vez mais sentida nas comunidades da Igreja no Brasil”, disse. Ele aponta que a iniciação à vida cristã é outro tema transversal que apareceu muito forte nos relatórios com uma demonstração de que as dioceses estão procurando concretizar a iniciação com inspiração catecumenal com maior valorização da Palavra de Deus.

O padre informa que os relatórios também apontaram um clamor muito grande: o desconhecimento da Palavra de Deus na prática concreta de muitos cristãos e cristãs. “Outra questão que aparece nos relatórios é a missão e a presença do Papa Francisco na Igreja hoje. Seus gestos, seus exemplos e ensinamentos tocam profundamente a vida do nosso povo. Outro tema que ficou  para nós muito evidente foi a reflexão da comunidade LGBTQIAP+. Recebemos um relatório muito extenso que enviaram para nós sobre esta situação, demonstrando que muitas vezes se sentem rejeitados e até perseguidos nas comunidades. Mas eles mesmo disseram ‘não iremos deixar a nossa mãe que é a Igreja'”, informou.

Ausências sentidas nas escutas

O padre destaca que a grande ausência sentida pela Comissão que produziu a síntese do Brasil é a questão ambiental. “Se eu não me engano, não apareceu nenhuma referência à Laudato Si’ dentro deste contexto de preocupação da relação do ser humano integral com a natureza e com a Casa Comum, uma ausência que nos inquieta bastante”, disse. Outra ausência sentida pela Comissão de Síntese é a ausência das voz das crianças e adolescentes. “Ou não foram convidados ou falta explicitar um pouco melhor nos relatórios esta consulta às crianças e aos adolescentes”, disse.

Podemos também dizer que a população carcerária ficou ausente desta grande consulta sinodal, como também os negros, o que nos traz um pouco de preocupação num país cuja população é composta por 53% de pessoas que se reconhecem negras. “Nos relatórios é uma ausência que se sente muito. Eu também poderia dizer que outro elemento que está ausente é a questão indígena. Estamos no Brasil com tantos problemas sobre a questão dos povos originários e pouquíssimo relatórios tocaram neste assunto de forma explícita e forte como está na Querida Amazônia, por exemplo”, reflete.

De acordo com o padre, a capacidade de ouvir as comunidades no Brasil é algo extraordinário. “A escuta sinodal dá para nós um grande mosaico da Igreja no Brasil. Isto é muito rico, proveitoso e será uma contribuição, acredito eu, muito grande ao Sínodo 2023. Para mim foi um privilégio muito grande ler estes relatórios, compreender as esperanças e angústias de nossas igrejas e dos grupos específicos. Destaco também a troca de experiência entre nós da equipe com os secretários regionais da CNBB e das equipes e também em poder assessorar algumas dioceses. Para mim foi um processo muito rico”, avaliou.

Conheça a entrevista na íntegra:

 

Entrevistas sobre a síntese das escutas das Igrejas Particulares

 

A Assessoria de Comunicação da CNBB produziu uma série de entrevistas com os membros da Equipe de Animação do Sínodo 2023 no Brasil que estão sendo publicadas no portal e no canal do yotube da entidade. O documento com a síntese final, de 10 páginas, será apresentado ao episcopado brasileiro na 59ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, como parte do processo indicado pela Secretaria Geral do Sínodo 2023, antes de ser enviado à etapa continental.

 

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