Deus é Pai. Eternamente Pai, sem princípio e sem fim. Tão Pai que eternamente se comunica inteiramente ao Filho. O Filho é Deus com o Pai eternamente, sem começo e sem fim. Une-os o Espírito de Amor, a terceira pessoa em Deus. Hoje é dia dos pais. Ser pai e ser mãe é ser fonte, origem. Biologicamente é simples. Os bichos também fazem filhos. A ciência, hoje, pode produzi-los em laboratório, usando um óvulo colhido de alguma mulher e o espermatozóide colhido de algum homem. A ação de fazer o filho será então ação de um técnico. Sua ação substitui o ato humano em que um homem e uma mulher geram um filho. O útero que vier a receber o embrião poderá ser de outra mulher. Se vier a nascer, este ser humano haverá de se perguntar: “afinal quem é meu pai?” “E minha mãe?”

Sobre isso ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica, respondendo á pergunta: “por que a inseminação e a fecundação artificiais são imorais?” “São imorais porque dissociam a procriação do ato com que os esposos se entregam mutuamente, instaurando assim um domínio da técnica sobre a origem e o destino da pessoa humana. Além disso, a inseminação e a fecundação heteróloga, com o recurso a técnicas que envolvem uma pessoa estranha ao casal dos esposos, prejudicam o direito do filho de nascer dum pai e duma mãe conhecidos por ele, ligados entre si pelo matrimônio e tendo o direito exclusivo a tornarem-se pais, só um através do outro”(cf. CIC, 2373 a 2377). E mais adiante: “O filho é um dom de Deus, o maior dom do matrimônio. Não existe um direito a ter filhos («o filho exigido, a todo o custo»).

Existe, ao contrário, o direito do filho a ser o fruto do ato conjugal dos seus progenitores e o direito a ser respeitado como pessoa desde o momento da sua concepção “(cf. 2378). E continua: “O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de terem esgotado os recursos legítimos da medicina, sofrerem de infertilidade, unir-se-ão à Cruz do senhor, fonte de toda fecundidade espiritual. Podem mostrar sua gnerosidade adotando crianças desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do p’roximo”(cf. n. 2379).Os filhos devem nascer de um ato de amor, como nos lembra a canção do Pe. Zezinho:  “que nenhuma família comece em qualquer de repente”. Mas o fato é que há filhos nascidos segundo o disposto por Deus na própria natureza que se sentem como se pais não tivessem. Foram gerados, mas não amados.

Nossa fé nos diz que Jesus, o filho de Maria, veio por ação do Espírito Santo. José, o esposo da Virgem, assumiu no tempo o Filho de Deus feito ser humano. Não houve e nem haverá ninguém tão pai como José. Todo pai só é pai de verdade quando com a esposa assume, em verdadeiro amor, o filho gerado. E isto São José o fez de forma tão intensa que o menino Jesus aprendeu que seu Deus, o Senhor, devia ser assim como José a quem ele, pequenino, balbuciando, chamava de Abba, papai. Ser pai na terra é ser sinal do Pai do céu. Dele procede toda paternidade ( cf. Ef 3,14).

A beleza da paternidade humana é reflexo da Paternidade de Deus, Pai e Criador. O pai bom oferece ao filho a via de acesso ao Pai do céu. Foi Jesus quem, por primeiro, chamou o Deus de Israel de Pai, Abba, Papai. Era assim que a criança judia se dirigia a seu pai. Mas nenhum judeu se atreveria de assim se dirigir a seu Senhor, seu Deus. Foi Jesus quem inaugurou essa linguagem de ternura no trato com Deus. E foi de José que recebeu o afeto que lhe permitiu reconhecer em Deus o Pai de infinito amor. Bem-aventurado o pai que passar para o filho tal experiência de amor que lhe permita alegrar-se quando ouvir: “Deus é nosso Pai”.

Parabéns, pais de verdade!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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