Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
Dentre os tantos assuntos aprofundados e resoluções tomadas pela 56º Assembleia Geral da CNBB, reunida no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecia, de 11 a 20 de abril, desejo destacar as duas mensagens dirigidas ao povo brasileiro. Uma, intitulada Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao povo de Deus, deseja reafirmar a missão da Igreja, de uma maneira especial dos bispos congregados numa Conferência Episcopal, “expressão da catolicidade e unidade da Igreja”. O convite é que permaneçamos unidos em Cristo, visto que “não é possível compreender a Igreja simplesmente a partir de categorias sociológicas, políticas e ideológicas, pois ela é, na história, o povo de Deus, o corpo de Cristo, e o templo do Espírito Santo”.
Por esta razão, “a CNBB não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político”. A fé cristã, porém não pode ser reduzida a algo meramente intimista, mas, por uma exigência do Evangelho, “a Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. GaudiumetSpes, 76)”. Quando se posiciona nestas realidades, o faz a partir de Jesus Cristo e das orientações da Doutrina Social da Igreja. “É a partir de Jesus Cristo que a Igreja se dedica aos pobres e marginalizados, pois neles ela toca a própria carne sofredora de Cristo, como exorta o Papa Francisco.”
A segunda mensagem tem como foco o ano eleitoral: Eleições 2018: compromisso e esperança. As palavras partem de quem olha para a realidade brasileira “com o coração de pastores, preocupados com a defesa integral da vida e da dignidade da pessoa humana, especialmente dos pobres e excluídos”. Recorda que “o Brasil vive um momento complexo, alimentado por uma aguda crise que abala fortemente suas estruturas democráticas e compromete a construção do bem comum, razão da verdadeira política”. Os próprios agentes políticos, muitas vezes, ao não se guiarem pela ética e a busca do bem comum “tornaram-se protagonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha destaque, ao revelar raízes cada vez mais alastradas e profundas”. Ao verem diminuídas as conquistas sociais, “resultado de uma economia que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número dos pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade”. Isto tudo somado produz um cenário de “um perigoso descrédito com a política”, “discursos e atos de intolerância, de ódio e de violência, tanto nas redes sociais como em manifestações públicas”.
Recordou-se ainda a importância de superar as polarizações e concentrarem-se, todos, na busca do bem comum. Que no processo eleitoral sejam garantidos os princípios éticos e os dispositivos legais, particularmente o combate à corrupção eleitoral mediante a compra de votos e o uso da máquina administrativa, e a “Lei da Ficha Limpa”. Aproveitemos a oportunidade deste ano eleitoral para reafirmarmos nosso compromisso com a dignidade da pessoa humana, que deve se antepor ao capital e ao lucro.
Enfim, a Mensagem quer ser de esperança e compromisso: “exortamos a população brasileira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de crescimento, abandonando os caminhos da intolerância, do desânimo e do desencanto”. “Neste Ano Nacional do Laicato, conclamamos todos os fiéis a viverem a integralidade da fé, na comunhão eclesial, construindo uma sociedade impregnada dos valores do Reino de Deus” (Mensagem ao povo de Deus). Podemos afirmar que as duas mensagens partem da fé em Jesus Cristo e suas consequências no compromisso cristão de ser “sal da terra e luz do mundo”, nos desafios atuais da evangelização e da realidade brasileira.