Após os escândalos de abuso sexual e de poder na Igreja no Chile e esclarecimentos recebidos pelo papa Francisco, os bispos chilenos foram a Roma para uma série de encontros com o pontífice. Ao anoitecer desta quinta-feira, 17, encerrou-se a última sessão entre Francisco e os 34 prelados do Chile. Foi um período de “discernimento e encontro fraterno”, informou a Sala de Imprensa da Santa Sé.
Em carta, divulgada pelo Vatican News, o papa Francisco convida os bispos chilenos a seguirem construindo uma Igreja profética, “que sabe colocar no centro o importante: o serviço a seu Senhor no faminto, no preso, no migrante, na vítima de abuso”.
Em sua carta, Francisco recorda os abusos “de menores, de poder e de consciência” como “acontecimentos dolorosos” que tiveram “trágicas consequências” para as vítimas. Mas também destaca o “firme propósito de reparar os danos causados” ao qual os bispos uniram-se.
“Agradeço a plena disponibilidade que cada um manifestou a aderir e colaborar em todas aquelas mudanças e resoluções que teremos que tomar a curto, médio e longo prazos, necessárias para restabelecer a justiça e a comunhão eclesial”, escreveu Francisco.
A carta dos bispos é marcada pelo agradecimento ao papa, pela sua escuta paterna e a correção fraterna; ao bispo dom Scicluna e ao padre Jordi Bertomeu, pela dedicação pastoral e pessoal, além do esforço para tentar sanar as feridas da sociedade e da Igreja chilenas; e às vítimas, por sua perseverança e coragem, não obstante as “enormes dificuldades” que tiveram de enfrentar.
“Mais uma vez imploramos o seu perdão e sua ajuda para continuar a avançar no caminho do tratamento das feridas para que possam ser sanadas”, escreveram os bispos chilenos.
Os bispos da Conferência Episcopal Chilena também comunicaram que colocaram, por escrito, os cargos à disposição do papa Francisco, “para que ele decida livremente por cada um de nós”.
“Em comunhão com ele [o papa Francisco], queremos restabelecer a justiça e contribuir para a reparação do dano causado, para dar novo impulso à missão profética da Igreja no Chile, cujo centro sempre deveria ter sido em Cristo”.
Leia a carta dos bispos chilenos na íntegra.
Confira a íntegra da carta do papa:
Queridos irmãos no episcopado,
Quero agradecer-lhes por terem acolhido o convite para que, juntos, fizéssemos um discernimento franco face aos graves fatos que prejudicaram a comunhão eclesial e debilitaram o trabalho da Igreja do Chile nos últimos anos.
À luz dos acontecimentos dolorosos concernentes aos abusos – de menores, de poder e de consciência –, temos aprofundado a gravidade dos mesmos, bem como as trágicas consequências que tiveram particularmente para as vítimas. A algumas delas eu mesmo pedi perdão de coração, a cujo pedido vocês se uniram numa só vontade e com o firme propósito de reparar os danos causados.
Agradeço a plena disponibilidade que cada um manifestou a aderir e colaborar em todas aquelas mudanças e resoluções que teremos que tomar a curto, médio e longo prazos, necessárias para restabelecer a justiça e a comunhão eclesial.
Depois destes dias de oração e reflexão os convido a seguir construindo uma Igreja profética, que sabe colocar no centro o importante: o serviço a seu Senhor no faminto, no preso, no migrante, na vítima de abuso.
Por favor, não se esqueçam de rezar por mim.
Que Jesus os abençoe e a Virgem Santa os proteja.
Fraternalmente,
Francisco