Paróquia, comunidade de comunidades

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo

Tenho a alegria de me dirigir, com uma Carta Pastoral, a toda a nossa Arquidiocese, para convidar leigos, sacerdotes e consagrados a Deus na Vida Religiosa a acolherem este ano pastoral como um dom de Deus e como uma tempo de missão. A Carta Pastoral – Paróquia, torna-te o que tu és – publicada e entregue ao clero no dia 15 de fevereiro, trata do destaque pastoral para 2011 em nossa Arquidiocese e é um convite a avançarmos na realização das metas do nosso 10º Plano de Pastoral. – “Ser Igreja Discípula e Missionária de Jesus Cristo na cidade de São Paulo”. Ao mesmo tempo, coloca-nos em sintonia com a Missão Continental e a realização das grandes propostas da Conferência de Aparecida.

Nesses últimos anos, a cada ano, foi colocado em evidência um tema relevante para a vida eclesial: Centenário de nossa Arquidiocese, Ano Paulino, Ano Sacerdotal, vocação e missão dos Leigos na Igreja… Neste ano, e continuando em 2012, queremos destacar a paróquia, “comunidade de comunidades”, como vem identificada no Documento de Aparecida. Esta escolha foi fruto de reflexões na Assembléia Arquidiocesana de Pastoral de 2010 e no Conselho Arquidiocesano de Pastoral (CAP). Queremos perguntar-nos sobre como está a nossa paróquia e o que pode ser feito para que ela seja uma verdadeira comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo na cidade de São Paulo?

A paróquia é, na expressão local e concreta, aquilo que a Igreja é no seu todo. Na paróquia, a Igreja manifesta de maneira próxima e perceptível a sua vida e sua missão; ela é uma comunidade organizada de batizados, de bens espirituais, simbólicos e materiais, de organizações e iniciativas, que fazem a Igreja acontecer num determinado espaço e contexto.  Se a paróquia vai bem, a Igreja ali também vai bem; e, se a paróquia vai mal, ali a Igreja vai mal. A Igreja poderia ficar reduzida a uma série de estruturas, instituições e organizações, sem chegar às pessoas concretas, se as paróquias não vivessem bem sua identidade e sua missão, como comunidades vivas e dinâmicas.

Vale, pois, a pena que demos uma atenção especial à paróquia, realizando nela e através dela o processo de “conversão pastoral e missionária”, pedido pela Igreja na 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida (2007). A renovação da paróquia é essencial para que nossa Arquidiocese, grande comunidade de muitas comunidades de discípulos missionários de Jesus Cristo, possa realizar bem sua missão na cidade de São Paulo.

Propomos, antes de tudo, uma profunda tomada de consciência daquilo que dá sentido à existência da paróquia e o que ela é chamada a ser. Se for vista com os olhos da fé eclesial, a paróquia é uma realidade bonita, abençoada e preciosa. Mas hoje, certamente, precisamos fazer alguns passos para ir além da preocupação com a conservação daquilo que somos e temos: as paróquias precisam fazer, como pede a Igreja, uma decidida “conversão pastoral e missionária” de suas pessoas, organizações e estruturas pastorais. É necessário adotar uma nova atitude e preocupação, que traduza um claro objetivo missionário.

Bem mais que uma realidade jurídica e burocrática, apenas, a paróquia é o rosto mais visível e concreto do Mistério da Igreja, “sacramento da salvação” no mundo; é uma comunidade de fiéis congregados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, vivendo a fé, a esperança e a caridade. Ela está unida em torno de Cristo, presente sacramentalmente na Eucaristia e nos demais Sacramentos, na Palavra de Deus proclamada e acolhida com fé, nos pobres, doentes, sofredores e toda pessoa servida com amor, em nome de Cristo. A assembléia eucarística é a expressão mais visível da Igreja, reunida ainda hoje em torno de Jesus Cristo Salvador, Senhor e Pastor da Igreja, representado pelo Ministro ordenado, que está no meio dela e à sua frente para servi-la e conduzi-la na caridade.

São muitas as imagens usadas pelo Concílio Vaticano II para dar a entender o que é a Igreja, e que se aplicam também à paróquia (cf. LG 6-8): “casa de Deus”, templo edificado com pedras vivas, “corpo de Cristo”, do qual todos somos membros; ela é o concreto e visível “Povo de Deus”, que irradia e difunde no mundo a luz de Cristo, o sal e o fermento benéfico do Evangelho e vai fazendo aparecer os sinais do Reino de Deus já presente no meio de nós (cf. LG 9). Na paróquia, a Igreja inteira se expressa e realiza a missão recebida de Cristo: anunciar e acolher a Palavra de Deus; testemunhar a vida nova recebida no Batismo, buscando a santidade; viver a caridade pastoral, a exemplo e em nome de Jesus, Bom Pastor.

A paróquia é a “comunidade missionária dos discípulos de Cristo” no meio do mundo. É comunidade de pequenas comunidades, famílias, pessoas, grupos, organizações e instituições, que testemunham a variedade, a riqueza e a beleza dos dons de Deus e estão a serviço da missão recebida de Cristo. A paróquia é a Igreja “na base”, célula viva do Corpo de Cristo, onde a maioria dos batizados tem a possibilidade de fazer uma experiência concreta do encontro com Cristo e da comunhão eclesial.

Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO

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