O termo e a festa da Páscoa são usados muito comercialmente e muitos, então, podem ficar na superficialidade da comemoração. Jesus queria ardentemente celebrar a festa da Páscoa com os discípulos. A razão disso conglobava todo o sentido e a aplicação de sua missão. O Pai O enviara para libertar o ser humano da escravidão de si mesmo e dar-lhe condição de viver a grande alteridade do amor oblativo. Isto vem a ser o achado do grande segredo da vida realizadora, ou seja, o mergulho no amor de Deus para a vida de amor ao semelhante. Somente ganha a vida quem der a própria em bem do outro. Jesus faz e ensina isso. Quem quiser segui-lo deve estar disposto a imitá-lo. Caso contrário, a Páscoa não tem aplicação em nossa vida. A pura celebração da festa sem o condimento fundamental da mesma não atinge o significado e a realidade da própria transformação.
Na última ceia, Jesus apresentou o grande tesouro de seu amor, dando de si, totalmente, não só um pedaço, através da Eucaristia. Ato contínuo, derramou até a última gota de sangue e água do coração, indicando a oferta cabal de sua pessoa, em nome da humanidade. Depois, mostrando sua divindade, superou o limite humano da morte física. Ressuscitou!
O ser humano tem a tendência e ação contínua de absolutizar a própria vontade, a ponto de relativizar valores dos outros e de Deus. A regra do jogo, então, são o próprio pensamento e o próprio desejo. A história do pecado, desde o início, tem sido justamente isto. Jesus veio realizar e nos ensinar a realidade da Páscoa. Ela é aplicada em nós quando aceitamos a verdade dele e realizamos a obediência total a Deus. Ele teve a tentação ou o desejo de fazer a própria vontade, mas sempre se dominou e realizou a vontade do Pai, mesmo tendo que se sujeitar à condenação, à morte e sofrer os mais terríveis açoites, finalizando com a crucifixão, morte e sepultura. Mas sabia previamente do desfecho. Por causa dele também vivemos a esperança da Páscoa definitiva com a ressurreição e a vida eterna.
Se estamos na convivência de grande insegurança, violência e injustiça generalizada, é justamente por não pautarmos nossa vida em obediência a Deus. O Filho dele vai à nossa frente indicando-nos o caminho. Sua Páscoa nos dá garantia de que vencemos e somos capazes de conseguir a paz duradoura dentro de nossas consciências e no relacionamento familiar e social. Basta nos convertermos para superarmos a pior das escravidões: a do aprisionamento em nosso egoísmo. Libertamo-nos através de uma vida iluminada pelo Ressuscitado! Com ele, somos capazes de implantar o reino da justiça misericordiosa e do amor que produz verdadeira liberdade!
Com a celebração da Páscoa, em sua realidade original de aceitarmos as coordenadas de Jesus, somos impulsionados, a exemplo dos apóstolos, a ser “testemunhas de tudo o que Jesus fez” (At 10, 39) e também com eles “testemunhar que Deus o constituiu juiz dos vivos e dos mortos” (At 10, 42). Vale a pena celebrar a Páscoa de Jesus, que dá fundamento absoluto à nossa própria Páscoa. Assim viveremos como pessoas ressuscitadas para a vida nova, ou seja, com a nova perspectiva dele.