Dom Odelir José Magri
Bispo de Chapecó
A Igreja celebra hoje o mistério central de nossa fé: A Ressurreição de Jesus. Sem isto, não existe salvação dos pecados, não existem sacramentos, não existe Igreja.
A belíssima liturgia de hoje nos apresenta toda a história da salvação. – com todos os seus altos e baixos – criação, pecado original, alianças feitas por Deus e rompidas pelo homem, travessia do Mar Vermelho, etc. – como tendo sentido aos olhos de Deus. Nada foi desprezado.
Quando olhamos para a nossa vida, muitas vezes ficamos sem entender como Deus pôde estar ausente em dado momento ou como ele pôde tolerar tal situação ou porque permitiu que isto ou aquilo acontecesse. A solene celebração da Ressurreição de Cristo afirma enfaticamente que Deus supera nossa capacidade de compreender o sentido da vida. Ao ressurgir dos mortos ele acende a chama da vida – representada pelo círio pascal – onde antes imperavam as trevas. Até as testemunhas oculares das aparições do Ressuscitado têm dificuldade em entender como a graça de Deus é capaz de romper o que para nós parece impossível: dar vida a um morto!
A Páscoa é a vitória do amor, do bem e do perdão sobre o ódio, a vitória do amor sobre o mal e o ressentimento. Se Cristo ressuscitou, devemos amar, buscar a santidade e perdoar, em imitação de Nosso Senhor.
A melhor celebração – de fato – a única aceitável – da PÁSCOA é a interiorização pessoal e manifestação visível através de nossos atos. Que Cristo faça de cada um de nós uma testemunha viva de sua Ressurreição. (Meditação da Palavra de Deus, Liturgia Diária, ano 5 – No 64, abril de 2020, Edições CNBB).
Mas como dizer hoje: É Páscoa! Ou então desejar Feliz Páscoa, em tempos de quarentena e diante de tanto sofrimento provocado pelo COVID 19? Eis alguns sinais de ressurreição, manifestação visível que é Páscoa:
- Pesquisadores e profissionais da saúde do mundo inteiro deixam de lado por um momento, a concorrência, a possibilidade de fama e sucesso, o interesse econômico e partilham informações e o resultado de suas pesquisas, acelerando o processo de busca de uma vacina contra o covid 19.
- O Papa Francisco tem chamado a atenção ao belo testemunho dos profissionais da saúde, leigos e leigas, sacerdotes, religiosas/os, que estão hoje na linha de frente no cuidado dos doentes e vítimas do novo corona vírus, alguns pagando com a própria vida.
- Os incalculáveis gestos de solidariedade, de partilha e doação de alimentos em nossas paróquias e comunidades cristãs e outras entidades, em socorro aos mais necessitados.
- Quero destacar também a experiência missionária de comunhão-solidariedade que temos vivido neste período de isolamento social e de quarentena: muitos de nossos cristãos estão sentindo falta, sentindo saudades da participação presencial na Eucaristia, na celebração da Palavra, e, portanto, da comunhão sacramental. No entanto, essa realidade tem nos permitido viver também uma experiência de comunhão espiritual missionária com muitos cristãos, (no Brasil e no mundo), irmãos e irmãs que normalmente tem a oportunidade de comungar apenas uma ou duas vezes por ano.
- Enfim, desejo lembrar ainda as nossas preces de intercessão pelo mundo inteiro. Vale destacar a simples e bela experiência da IAM – nossas crianças e adolescentes rezando pelos que sofrem com essa pandemia nos cinco continentes e pedindo a Deus o fim da mesma. É verdade, “Missão se faz também com os joelhos de quem reza”.
É por estes e por tantos outros sinais que podemos dizer hoje,
Somos filhos e filhas da esperança, somos filhos da vida, pois a MORTE, a DOR e o SOFFRIMENTO não têm a última palavra.
Como Maria Madalena e a outra Maria, possamos partir – devagar ou depressa – nos colocarmos a caminho… pois essa situação que estamos atravessando irá abrir-nos CAMINHOS NOVOS e certamente, nada mais seja como antes. É um convite, um apelo a sairmos da ‘normose’, da rotina estéril e ousarmos caminhos novos, impulsionados pelo convite de Jesus: “Alegrai-vos! Não tenhais medo. IDE ANUNCIAR aos irmãos que se dirijam para a Galiléia. Lá eles me verão”. (Mt 28, 9-10).
Qual Galiléia? Galiléia pode ser a nossa família, nossa comunidade, nosso local de trabalho, nossa cidade, nossas periferias, as pessoas que mais sofrem, os doentes, os imigrantes, o povo em situação de rua, os indígenas, os presos, os dependentes químicos, enfim, os mais pobres. E assim podemos dizer que PÁSCOA É VIDA – PÁSCOA É MISSÃO.
Amados irmãos e irmãs, graças à Ressurreição de Jesus, minha vida, tua vida e nossa vida é missão. Que Cristo faça de cada um de nós seus discípulos, missionários/missionárias testemunhas vivas de sua Ressurreição.
Feliz e abençoada Páscoa para todo o povo de Deus de nossa Diocese, para sua família, para as pessoas que estão trabalhando. FELIZ PÁSCOA NO SEU CORAÇÃO.