Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Caros diocesanos. Novamente vos saudamos com votos de “Feliz e Santa Páscoa” e continuamos a cantar: “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!”. A alegria pascal inundou nossos corações e os “Aleluias” (= Louvai o Senhor) ainda ecoam em nossos templos e em nossas casas. O Senhor ressuscitou e vive entre nós. Mais uma vez aprendemos que a Páscoa é “Passagem”, passagem da morte para a vida em Jesus Cristo. Pelo nosso batismo, sua Páscoa é também a nossa Páscoa, tornando-nos filhos e herdeiros de Deus; irmãos e irmãs em Jesus Cristo.
Vivemos o Mistério pascal em tempos de pandemia, que manifesta nossa fragilidade humana. Experimentamos sofrimentos e temores que ameaçam a própria vida. Muitos de nós ou de nossos irmãos e irmãs também passam por agonias de Sexta-feira Santa, com olhar confiante para a cruz, na esperança da vitória da vida sobre a morte.
Em meio a toda esta situação de crise da humanidade, temos também ocasião de aprendizagens e de descobertas que conduzem a luzes de esperança pascal. A pandemia nos ensina a importância da união das forças no cuidado do precioso dom de nossa vida. Experimentamos, durante o distanciamento, o quanto somos dependentes da graça divina e dos serviços dos outros. Este tempo de crise nos mostrou a necessidade de voltar os olhos para o essencial da vida: sua origem, seu sentido, seus valores, seu destino.
Dentro deste contexto de aprendizagens, gostaria de apresentar hoje a síntese de palestra da teóloga brasileira: Maria Clara Lucchetti Bingemer, ao se dirigir para mais de 200 bispos do Brasil, além de outros agentes de pastoral, no final de 2020, sugerindo seis pistas para um projeto de evangelização e ação pastoral da Igreja no pós-pandemia:
Retomar o luto na perspectiva pascal: A Igreja deve, em profundo silêncio, escutar os atingidos pelo sofrimento e pela morte. Ouvi-los, deixá-los expressar sua dor e, como agentes de consolo e esperança pascal, ajudar a processar e rezar o seu luto;
Parceria com a Ciência: A Igreja, em meio a confusões e ruídos negacionistas, precisa dialogar com Deus e com a ciência. Não podemos esperar passivamente que Deus resolva tudo. Devemos também rezar para que os cientistas sejam iluminados em sua missão e que todos nós assumamos a responsabilidade do cuidado da saúde;
Recuperar o espaço da beleza e do estético: A arte nos aproxima de Deus. A Igreja deve ser um espaço de arte, de beleza. Devemos ser poetas de Deus. A pandemia ensinou a cultivar a música, o canto, a poesia, a pintura, as flores, o lúdico…;
Revalorizar o espaço doméstico – Igreja Doméstica: A pandemia nos trouxe para casa e proporcionou ali a vivência da fé, que acontecia mais nos templos. E isso valorizou o espaço doméstico como espaço para reencontrar a união e expressar a fé; ali acontece a vida, com suas dores e alegrias; ali se realiza a expressão da fé. Na casa, o leigo assume com mais evidência seu papel cristão.
Cuidado da Terra – Nossa casa comum: Estamos interligados com a Mãe-terra. Precisamos recuperar a convivência com os outros e o mundo criado, num espírito de progresso sustentável. Nosso planeta está doente. É preciso recuperar um estilo de vida saudável e ecológico;
Fratelli Tutti: A encíclica do Papa é uma bússola para nossos tempos. A pandemia mostrou nossa pobreza: os pobres necessitam opção preferencial. O mundo é de todos: é preciso ser mais solidário e fraterno. Não basta um mundo de sócios, mas de irmãos.