Pascoalizar e esperançar a vida e o mundo!

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

     A oitava da Páscoa faz ressoar e iluminar o maravilhoso acontecimento da Ressurreição durante toda a primeira semana deste tempo central e primordial para a Igreja e toda a Criação. Este ano, a Oitava dá um significado e sentido Pascal a três datas que acontecem nesta semana: o Dia dos Povos e Etnias Indígenas (19 de abril), a memória da Inconfidência Mineira (21 de abril) e o Descobrimento do Brasil (22 de abril). A Comemoração, do dia dos povos indígenas, e não do índio, nome vago e equívoco dado por Américo Vespúcio, inspira-nos a levantar o grito urgente pela sua sobrevivência ameaçada pelo garimpo ilegal, as invasões de suas terras e a poluição das águas e desmatamento, além, como no caso dos ianomâmis, o abuso e estupro de menores e o contágio de doenças (DST). A Páscoa de Jesus reclama, como diz o Papa Francisco, que estes povos sejam considerados guardiões e jardineiros da Terra. A Inconfidência, tão ligada ao exemplo e testemunho heroico de José Joaquim da Silva Xavier, Tiradentes, nos estimula a continuar lutando na esperança por uma República inclusiva e solidária pois, um dos primeiros historiadores do Brasil, Frei Vicente do Salvador, já afirmava, na primeira metade do século XVII, a falta de espírito público e de respeito para com o bem comum; esta data libertária nos exige completar o processo de emancipação, sem escravidões e exclusões dos mais pobres e pequenos. Finalmente, a lembrança do descobrimento do Brasil, na verdade a palavra encobre que, para as populações nativas, o que houve foi a chegada e o encontro com a cultura europeia, mistura de dois projetos: o da evangelização, com Frei Henrique de Coimbra (Terra de Santa Cruz) e o do Brasil, empresa colonial (Terra Brasillis, pelo primeiro produto, pau Brasil). Embora pudessem ter sido conjugadas as expectativas e motivações da população da praia (indígenas) e das caravelas (portugueses), eram diferentes e, após um deslumbramento inicial, deu-se, ou revelou-se, aquela mentalidade que o poeta e sambista Noel Rosa frisou: “Minha Terra dá banana e aipim, o meu trabalho é encontrar quem descasque para mim”. A escravidão e trabalho forçado de indígenas e, posteriormente, de negros africanos, e a exploração predatória dos recursos naturais, são, ainda, desafios para uma Nova Abolição e construção de um projeto de veras emancipador e inclusivo para todos os brasileiros (as). Que a Páscoa ilumine e inspire com lucidez nosso voto nessas eleições. Deus seja louvado!

 

 

 

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