Passagem do ‘eu’ medroso ao dom de si

Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul

 

Caros diocesanos. Estamos às vésperas de outubro, o Mês das Missões. E o Papa costuma enviar-nos uma mensagem especial para esse tempo, seja para reavivar o nosso espírito de discípulos missionários, assumido desde a nossa Iniciação à Vida Cristã, seja no sentido da missão ‘ad gentes’ (aos povos), que consiste na doação missionária mais ampla, inclusive em outras regiões ou países. No presente ano, marcado pelos desafios da pandemia, este caminho missionário inspira-se na vocação do profeta Isaías. Deus

    . convida, dizendo: “Queimarei?” e o profeta responde: “Eis-me a ui, envia-me” (Is 6, 8). Diz o Papa que é uma resposta, sempre nova, à pergunta que provém do coração de Deus e que interpela também a Igreja e a humanidade na atual crise mundial. Aqui é bom recordar as palavras do próprio Papa: “Fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e

desorientados, mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento… Não podemos continuar a estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos” (Francisco – Praça de São Pedro, 27/03/20).

Na cruz, como missionário do Pai, Jesus nos ensinou que o amor consiste em dar a vida, em sair de si mesmo para salvar os outros. No contexto da pandemia, ser chamado para a missão significa sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo, como oportunidade de partilha, de serviço e de intercessão, passando do eu medroso e fechado ao eu resoluto e renovado pelo dom de si. Pela fé experimentamos a gratuidade de Deus

para conosco: “Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso  encontro e chama-nos” (Papa Francisco).

A Igreja é sacramento universal desse amor divino pelo mundo. Ela prolonga na história a missão de Jesus através do testemunho de fé e de anúncio do Evangelho. E dessa forma, Deus continua a manifestar seu amor a todos os povos, em todo o tempo e lugar. Segundo o Papa, essa missão é resposta livre e consciente ao chamado de Deus. Mas a voz divina só é percebida quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja: “Estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da  virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado?… A ser enviados para qualquer

 

lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja?”

Finalmente, que desafios Deus nos faz durante a pandemia? Como diz o Papa, esta situação deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus — “Quem enviarei?”. Ele aguarda de nós resposta generosa e convicta: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal.

Sejamos discípulos missionários no hoje da história; atualmente, no tempo da pandemia.

 

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