Dom Romualdo Matias Kujawski
Bispo de Porto Nacional (TO)
Refletindo sobre o aspecto pastoral no contexto da mudança de épocas, e entrando no caminho sinodal, segundo a nova proposta do nosso Papa Francisco, vale a pena observar, com clareza, que no processo de escuta recíproca, o primeiro questionamento deveria ser: o que Jesus quer de mim hoje, de cada um de nós, e como somos missionários d’Ele? O Sínodo da Amazônia contextualiza o Povo de Deus dentro de sua realidade social, cultural, ecológica e, naturalmente, eclesial. Podemos dizer que, até mesmo extrapolando suas ideias a toda a América Latina e Caribe.
Atualmente, temos ouvido cada vez mais a respeito das ideologias. Com preocupação, observa-se a penetração delas em nossa Terra de Santa Cruz. São ideias agnósticas, centralizando a sua referência ética e moral no ser humano: “Cogito, ergo sum” de René Descartes e “a lei moral dentro de mim” de Immanuel Kant. Para contrapor tais pensamentos, cito como exemplo São Tomás de Aquino que, através da racionalidade do mundo, conduziu as pessoas a Deus, a uma reflexão do pensamento desses e de outros filósofos modernos, que tiram Deus do centro, oferecendo as ilusões da onipotência do ser humano.
Por isso, respeitando todas as expressões, lembramo-nos de Jesus Cristo, Alfa e Ômega, isto é, o início e o fim de tudo, bem como de suas palavras: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mt 24, 35). Com esta referência ao Kairós de Deus, desmascaramos o vazio e a vaidade de algumas correntes existenciais no mundo de hoje, como podemos citar:
- Ilusão do anarquismo, que quer destruir tudo e construir o novo sem Deus;
- Ilusão do fascismo, sobre a dominação dos Senhores, em detrimento à massa. Esta ideologia já causou a morte de milhões das pessoas;
- Ilusão do Marxismo, com o seu materialismo histórico e a teoria dialética da luta de classes e, a priori, colocando o primado da matéria sobre o espírito. Esta ideologia continua a estragar muitas vidas, promovendo as revoluções armadas e tratando a religião como “ópio” para o povo.
- Ilusão do chamado “novo Marxismo” que também é o movimento agnóstico, que salienta o domínio do espírito cultural sobre a pessoa. Isso autoriza até mesmo a escolha do próprio gênero, não a partir da biologia, mas a partir do critério cultural subjetivista. Neste contexto, estamos acompanhando, por exemplo, o fenômeno do movimento LGBTQIA+, e outras expressões semelhantes.
Diante de tantas ilusões, vale a pena perguntar também: o que é a liberdade? O mundo relativista não facilitará a resposta, ainda mais nesse tempo que que a digitalização total tem despersonalizado as relações humanas, criando o anonimato nos relacionamentos.
Entrando então na onda das escutas do Povo de Deus, antes do Sínodo e, pensando sobre nós na Igreja, por vezes ficamos pensativos: como reagir? ficar calados ou combater? De outro lado, sabemos que contra as frases prontas “eu acho porque acho”, não temos argumentos racionais. Isso nos ajuda a entender a preocupação do Papa Francisco que, insistentemente tem incentivado o diálogo recíproco entre os cristãos, para elaborar uma resposta firme e positiva, que fortalece a nossa identidade eclesial, respeitando também os outros.
Perguntando mais uma vez: o que Jesus quer de mim hoje, de cada um de nós, e como somos missionários d’Ele? faço votos que a caminhada do Sínodo Mundial, iniciar-se-á no mês de outubro deste ano, finalizando em 2023, nos ajude a nos situar melhor neste mundo de ideologias e contradições, nos fazendo redescobrir principalmente a identidade missionária de nossa Igreja.
Sejamos a Igreja impelida a atuar como Família unida dos Batizados. Família que participa e dialoga. Família que se responsabiliza com a missão, em comunhão com seus Pastores.
Que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, interceda junto ao Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, para que tenhamos sabedoria ao refletir, partilhar, nos levando a um pensamento comum.
