Ao nos determos na vida e formação de Paulo, é possível compreender melhor o modo como realiza o movimento de sua atividade apostólica e, também, com ele aprender o que para os dias de hoje é possível fazer para nos tornarmos cada vez melhores discípulos missionários de Jesus Cristo.
Com olhar atento na sua história de vida identificamos que sua formação percorreu as etapas necessárias ao desenvolvimento integral do cidadão cristão que hoje desejamos promover, pois envolvia: aprender a ler e escrever; estudar a lei de Deus e a história do povo; assimilar as tradições religiosas; aprender as orações. O processo para isso realizava-se na aplicação do método de pergunta e resposta para o que era necessário repetir e decorar o que havia aprendido, estudado e assimilado. Isto exigia disciplina e convivência, o que implica em reconhecer que a formação de Paulo não está restrita somente ao método de pergunta e resposta.
Ao pensarmos no processo catequético de formação permanente, podemos reconhecer que alguns dos aspectos da formação de São Paulo estão presentes em algumas propostas de nossa catequese. Assim, percebe-se no roteiro de nossos conteúdos catequéticos o estudo da Lei de Deus, a compreensão das tradições que estão presentes em nosso jeito de celebrar, discernir e interagir na dinâmica social. Ainda, está em nosso roteiro a aprendizagem das orações. Diante disso, pode-se dizer que nosso processo de formação de cristãos tem algumas similaridades com a formação de Paulo. Contudo, o que nos chama atenção, ao estabelecermos a identificação dessas similaridades, não está essencialmente centrado no roteiro de conteúdos, mas sim na dinâmica do método utilizado que lhe exigia disciplina e convivência.
Quando nos referimos à disciplina, automaticamente surge em nossa mente a idéia de relações de subordinação de uma pessoa para com outra, atitude de obediência a normas e autoridade, entre outras. Mas, ao nos delongarmos na trajetória evangelizadora de São Paulo compreende-se que a disciplina está relacionada ao conjunto de conhecimentos que lhe eram transmitidos e ao modo como ele os aprendia, ou seja, a disciplina está relacionada à instrução e educação, que por sua vez tem por conseqüência a exigência da convivência. Esta palavra nos remete a compreender que qualquer ensino e instrução necessariamente tem, ou deveria ter, por meta conduzir a viver em comum, a colocar os ensinamentos em prática. Portanto, podemos afirmar que esta é também a meta da catequese.
Em sua formação, Paulo estudou, também, a tradição dos antigos em que a Lei de Deus era atualizada para o povo. Este estudo consistia de dois momentos: um em que se ensinava a viver de acordo com a Lei de Deus (Halaká) e outro que ajudava a identificar a própria vida à luz da Lei de Deus (Hagadá). Ainda, Paulo recebeu em sua formação a interpretação da Bíblia – este estudo consistia em ensinar as normas e o jeito de buscar o sentido da Sagrada Escritura para a vida das pessoas. Desta forma, aprendia-se a reconhecer nos textos bíblicos o passado e o presente em uma relação de complementaridade.
Frente a esse movimento formativo pelo qual Paulo passou está o método não como etapas ou momentos isolados, mas como o caminho que forma a ação capaz de mobilizar e dinamizar a essência do conhecimento por meio do processo de aprender, estudar e assimilar, promovendo uma relação dialógica com as comunidades que interagia, para o que se tornava imprescindível a disciplina e a convivência. Ação e relação, portanto, se revelam no modo com que Paulo assumiu a sua missão de evangelizador ao escrever cartas às comunidades como meio para instruir, para ajudá-las a discernir, para educar na justiça, preparando-as para realizar as boas obras.
A forma de Paulo viver nos revela que o método utilizado em sua formação nos orienta para a necessidade de assumir uma profunda convicção da proposta do Evangelho aplicado na vida. Para isso, torna-se imprescindível desenvolver a capacidade de assimilar o modo de pensar das pessoas, compreendendo seu universo para relacionar-se e interagir com elas. Isto pressupõe ser assertivo nas ações para atender com carinho os interlocutores da ação evangelizadora e, concomitantemente, exigente para que sejam obedientes aos ensinamentos do Evangelho, para alcançar uma vida nova.
A formação de São Paulo nos motiva a refletir a prática na ação evangelizadora, de modo especial na catequese, reconhecendo que a partir da aplicação adequada do método possibilita-se aos interlocutores tornarem-se discípulos de Jesus Cristo. Assim, é importante compreender que o método torna-se recurso para apreensão do conhecimento e, conseqüentemente, conduz à vivência uma vez que pressupõe haver disciplina ao guardar no coração aquilo que nossos educadores na fé contaram, o que nos é transmitido. Isso proporciona o sentido da convivência tão bem expressado na carta aos Filipenses 2,1-4 na qual Paulo motiva a comunidade a zelar pela harmonia interna visando o bem comum. Assim, cada um de nós, como discípulo missionário de Jesus Cristo, é convidado a inspirar-se em São Paulo para anunciar o Evangelho testemunhando-o por meio da disciplina e da convivência fraterna.