Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Não é de hoje que a nossa Igreja se une em oração e fraternidade pela paz mundial mesmo tendo muitas situações difíceis ao nosso redor. Neste dia em que começamos a viver, com um dia especial, o tempo do cuidado da criação, fomos convocados pela igreja do Brasil para um dia especial de oração pelo Afeganistão. A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que sofre (ACN), prepararam um vídeo especial para a Jornada de Oração e Missão dedicada à Paz no Afeganistão, que será realizada no dia 1º de setembro.
Falar de paz em terras com conflito é quase uma tarefa impossível, porém necessária e indispensável nos últimos dias. Para quem não sabe ou não está atento às notícias, o Afeganistão vive a retomada do poder por um grupo que já governou no passado o pais. Viralizou nos últimos dias, um vídeo dos habitantes tentando embarcar em avião militar dos Estados Unidos. Alguns até caem da aeronave já no ar. Outro fato recente, de natureza diferente, ocorreu no Haiti, que registrou mais de mil mortes pelo terremoto que passou pelo país novamente. A Igreja faz campanhas através da Caritas para ajudar a socorrer a realidade dos haitianos.
O Papa Francisco ao convocar os fiéis para um momento de profunda oração e recolhimento por esta trágica e assustadora situação, nos alerta como Jesus fez naquele tempo. Esse é um momento de prestar toda solidariedade ao povo afegão e haitiano. É muita angústia, dor e sofrimento. Por isso, precisamos nos unir em preces, dobrar nossos joelhos, elevar nossas orações pelos nossos irmãos, rezar por aqueles que perderam seus entes queridos, por todos os que passam momentos de muita tristeza, pedir a Deus pela segurança e pela paz.
Esse dia de oração e meditação vai dar voz aos que gritam a Deus, na dor e na angústia. Além disso, o mundo também precisa escutar este grito e para que cada pessoa na sua própria consciência, perante Deus, se pergunte “o que posso fazer pela paz?” Seguramente, poderemos rezar, mas não só isso. Cada um pode dizer concretamente não à violência. Porque as vitórias obtidas com a violência são falsas vitórias. Enquanto trabalhar pela paz faz bem.
Nossa Conferência Episcopal, nos seus mais de 70 anos de profecia, atenta e exercendo sua mais profunda comunhão com o Papa Francisco,
divulgou um vídeo a todos para a mobilização desse dia tão importante. O vídeo destaca a importância de rezar pelo povo do afegão, que tem vivido dias com extrema tensão e conflitos civis desde a retomada dos territórios do país pelo Talibã.
Não podemos esmorecer na fé diante das adversidades e intempéries. Atendendo ao pedido do nosso amado Papa Francisco, vamos percebendo que somos provados o tempo inteiro e devemos nos apoiar naquilo que realmente acreditamos e temos fé. Nosso precioso tempo não é igual ao do Senhor Deus. É ele quem conduz a nossa história e a oração cria em nós uma fortaleza e uma proteção nos dando forças para enfrentarmos tudo isso.
Como exemplo, relembramos a filha de Jairo, nos evangelhos sinóticos, que acaba falecendo mesmo tendo implorado misericórdia ao Mestre. Este parece o fim, mas Jesus diz ao pai: “Não tenha medo, tenha fé”. É a fé que sustenta a oração e, com efeito, Jesus despertará a menina do sono. Mas por um período, Jairo teve que caminhar na escuridão, somente com a chama da fé. Essa é a real situação nossa quando vemos nossos irmãos sofrendo em uma terra conflituosa e de exclusão.
Também a oração de Jesus ao Pai no Getsêmani parece permanecer desatendida. Mas o Sábado Santo não é o capítulo final, porque no terceiro dia há a ressurreição: o mal é senhor do penúltimo dia, jamais do último. Este pertence a Deus, e é o dia em que se realizarão todos os anseios humanos de salvação.
Não percamos a esperança! Façamos nosso papel de cristãos. Unindo nossa oração a de todo mundo, o Senhor nos ouve e nos atende. Aprendamos esta paciência humilde de esperar a graça do Senhor, esperar o último dia. Muitas vezes, o penúltimo é terrível, porque os sofrimentos humanos são terríveis. Mas o Senhor está ali. E no último dia, Ele resolve tudo.
A oração e o jejum são uma oportunidade de clamar a Deus Pai, cheio de misericórdia, a conversão dos corações, sobretudo daqueles que detêm os destinos destes países e de tantos outros que provocam violência, derramam sangue e fazem guerra. A paz é fruto da justiça! É um dom a ser pedido a Deus e a ser construído pela humanidade toda.
Que Deus, nosso Pai e protetor, abençoe as terras afegãs e todo o povo que ali clama, sofre e chora. Neste 1º de setembro, mês de São
Miguel Arcanjo, o arcanjo que guerreou, possamos ver sinais de trégua e de paz no mundo inteiro.