Pedofilia e “Pedoagapia

Em minhas visitas pastorais, quando permaneço mais tempo nas paróquias, visitando as comunidades e dialogando com os fieis leigos(as), atuantes nas várias pastorais, verifico com grande alegria a dedicação de nossos sacerdotes ao Povo de Deus. Eles, em nome do Senhor, presidem na caridade a vida das comunidades e são os grandes animadores dos fieis comprometidos no serviço do Reino. Para isso foram consagrados pela imposição das mãos do Bispo, sucessor dos Apóstolos, e enviados em missão.

Ser bispo ou ser presbítero ou diácono é escolha do Senhor através do chamamento da Igreja. Jesus, quando entregou as chaves do reino a Pedro, lhe disse: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”(cf Mt 16,13-19).  O grifo em “minha Igreja” ressalta que existe no mundo a Igreja, fruto da ação redentora de Cristo, por ele querida, organizada em torno dos apóstolos, tendo Pedro como sinal permanente de sua unidade.

Há “bispos” por aí que se intitularam tais, sem nenhuma relação com a Tradição eclesial, e que fundaram suas “igrejas”. Houve já uma pesquisa que mostrou que já nem se consegue – são tantas – mais adjetivos ou adjuntos para conseguir caracterizá-las e registrá-las, garantindo -lhes a identidade civil. Tornam-se por auto-nomeação bispos ou coisa parecida e abrem “igrejas” como se abrem lojas de comércio. Mas, voltemos ao tema desta reflexão: nossos sacerdotes. São sacerdotes porque foram chamados por Deus e se dispuseram para o serviço de Cristo na sua Igreja. Pode ser que um ou outro tenha se enganado e, movido por motivações outras -conscientes ou inconscientes – que não o serviço do Reino, tenha entrado na ordem sacerdotal. Pode até mesmo acontecer que alguém procure no sacerdócio uma forma de inserção social, onde o Status e o reconhecimento se constituam em motivação dominante.

Dos doze apóstolos, um, mesmo tendo sido chamado pelo Senhor, que nele viu a semente de um futuro operário do reino, não assimilou o projeto do mestre e acabou por traí-lo, confiando que Jesus haveria de responder revolucionariamente à decisão das autoridades de eliminá-lo. O evangelista Mateus confirma a hipótese de que Judas não esperava a tragédia do desfecho: “Judas vendo que Jesus fora condenado, sentiu remorsos e veio devolver …as trinta moedas de prata…” tendo depois ido se enforcar.( cf. Mt 27, 3-10). Jesus ter-se-ia enganado ao chamar Judas para compor o grupo dos apóstolos? Não. Judas, como Pedro, desejava o estabelecimento do reino. Como Pedro e os outros, pensava que seria coisa desse mundo. Junto com a perspectiva política ele tinha amor pelo dinheiro. Jesus, com certeza, esperava que ele se convertesse como os outros se converteram de suas concepções por demais humanas. Ah! Se Judas tivesse levantado os olhos e contemplado o olhar de Jesus quando lhe deu o beijo da traição e ouviu dos lábios de Jesus: “amigo, para que estás aqui!”(Mt 26,50). Judas, como Pedro (Lc 22,61), levaria cravado no coração aquele olhar de misericórdia e, como Pedro, ao invés de se enforcar, teria chorado amargamente. Mistério tremendo o da liberdade humana! Nós, sacerdotes, bispos e presbíteros, por misericórdia de Deus, fomos chamados para servir seu povo. Seguir Jesus é o sentido de nossas vidas.

seguimento é cheio de surpresas. A cada dia descobrimos sempre de novo que ainda não acertamos de todo nossos passos com os dele. Não somos melhores que Pedro. Contamos com a presença e a graça do Senhor. Se formos fieis, embora pecadores, não cometeremos escândalos. Mas, quem estiver de pé cuide que não caia, adverte-nos Paulo(I Cor 10,12).. Voltando às visitas pastorais às paróquias de Sorocaba quero deixar aqui meu testemunho de que os padres, com raríssimas exceções, amam e se dedicam de corpo e alma, ao nosso povo naquelas coisas que dizem respeito a Deus. Como é consolador ver que nossas paróquias, sob a orientação de nossos sacerdotes, com a dedicação incansável de leigos(as) cuidam de nossas crianças e de nossos adolescentes, sobretudo os mais pobres. Na Arquidiocese de Sorocaba são acompanhadas pela Pastoral da Criança cerca de 2500 crianças com suas respectivas famílias e pela Pastoral do Menor cerca de 2.000 menores. E assim é por esse imenso Brasil afora. Chamemos a esse cuidado pelas crianças e adolescentes de “Pedoagapia”. O Verbo grego para dizer do amor desinteressado é o vergo “agapan”.

O substantivo é agápe, traduzido para o latim por “caritas”. Deus nos ama com amor agápico, amor generoso, não motivado. O que pode ser traduzido assim: Deus nos ama porque Deus é amor.  Este é o amor maior. Através dessa reflexão em nome de Cristo quero abraçar, como o fiz na missa de quarta feira santa, todos os presbíteros da Igreja de Sorocaba e dizer-lhes quanto são eles amados por Cristo, por sua Igreja e pelo povo a quem servem.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

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