Peregrinando em lugares santos

Estamos em peregrinação. A Arquidiocese de Juiz de Fora se ajoelha reverente diante de Deus, aos pés do Sucessor de Pedro na sede romana, para manifestar sua fidelidade a Jesus Cristo e à sua Igreja. Recebe, pelo seu arcebispo, o sagrado símbolo do Pálio. Este é uma pequena peça de tecido, ao estilo de fita que envolve docemente os ombros do Pastor. Símbolo bonito e terno! Ao iniciar cada ano, moças que primam pela fidelidade a Cristo, apresentam ao Papa singelos carneirinhos para serem abençoados. É dia de Santa Inês, 21 de janeiro. Os tenros animais são tosquiados e de sua lã, religiosas confeccionam as peças que serão depositadas sobre o túmulo de Pedro, em sinal de ininterrupta missão no apostolado. Ao chegar a festa do Apóstolo símbolo da unidade eclesial, e de Paulo, o primeiro missionário, os pálios são entregues em solene liturgia aos novos arcebispos.

Para completar a viagem orante, os peregrinos de Juiz de Fora e seus co.viajantes vão a vários santuários europeus, mas têm o ponto alto ao lado do lago de Genesaré, na Galiléia, onde Pedro proclamou profeticamente: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que te amo!”, lema do atual arcebispo juizforano. Tudo se conclui em Fátima, num ato de sublime louvor à Mãe do Salvador e no Santuário do Apóstolo São Tiago, em Compostela, ao norte da Espanha. Com a gentil presença de 15 pessoas de Juiz de Fora, que é o maior grupo, mais alguns meus familiares e outros fiéis de comunidades a que servi como Pastor, celebro também ações de graças pelos dez anos de feliz episcopado.

As peregrinações não são empresas novas entre os que crêem. A Bíblia indica  movimentações freqüentes dos hebreus, entre as quais as visitas ao templo de Jerusalém.

Lucas descreve uma das viagens da Família de Nazaré, incluindo o conhecido episódio da perda do Menino Jesus, duodecênio, encontrado no templo, em colóquio com os doutores da lei que se admiravam da sabedoria de suas respostas e a inteligência de suas perguntas. “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc.2, 41). O caráter grupal da viagem, à moda de todas as romarias, verifica-se ao narrar a aflição de Maria e José que o procuravam, “pensando que ele estivesse na caravana.” (Lc.2,44).

A própria Paixão de Cristo deu-se numa destas viagens  pascais. O evangelho joanino evidencia ao menos três peregrinações de Cristo à cidade santa.

O exemplo de Cristo-Peregrino inspira, na história, as romarias dos cristãos que, desde os primeiros tempos se organizam para visitação de lugares sagrados. São Jerônimo, já no quarto século, incentiva as peregrinações à Terra Santa. No período medieval, o costume de peregrinar se tornou tão freqüente que se multiplicaram os santuários.  Na idade moderna e na contemporânea, este costume não diminuiu, antes aumentou. É que a alma humana tem razões e emoções que impulsionam a natural necessidade de celebrar a vida terrena em vista das realidades eternas. O ser humano é um perene peregrino em busca da cidade permanente, onde será efetivado seu encontro definitivo com o Pai.

O sagrado Pálio, ao ser visto pelos fiéis juizforanos nas solenes celebrações de seu território eclesial, seja recordação de que Cristo é fiel para sempre e, de nossa parte, queremos corresponder, sem mácula e sem defeito, este precioso dom.

Dom Gil Antônio Moreira

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