Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim” (Jo 15, 4). Durante o Tempo Pascal, a Igreja se esmera em oferecer-nos, a partir da Palavra proclamada e dos textos litúrgicos, a necessária formação, como pessoas apenas batizadas, a fim de que perseveremos na fé cristã. O dia de Páscoa foi nosso aniversário de Batismo! Um carinho pedagógico com o qual, ano após ano, somos convidados a estar mais adiantados no seguimento de Jesus Cristo. É que sabemos muito bem de nossa fragilidade e inconstância. Vale a pena olhar para o percurso feito e dar graças a Deus pelos passos dados. Não somos pessimistas nem derrotistas, pois sabemos que a graça de Deus nos acompanha e nos leva a sério!
Justamente por causa de nossas limitações, perguntamo-nos honestamente a respeito das providências a serem tomadas em nosso caminho espiritual, para superarmos a mediocridade e o relaxamento. Perseverar na graça de Deus é um desafio, uma possibilidade e um empenho a ser assumido com coragem.
Há um ideal de vida cristã a ser assumido com disposição. Deus nos atrai e o faz com todos. Há uma semente de bem plantada no coração humano. Estabelecer uma meta com prontidão, buscando ser perfeitos como o Pai do Céu é perfeito (Cf. Mt 5, 48; Lc 6, 36). Quem não abre seu horizonte no caminho da perfeição nivela a vida pelo rodapé da existência! Por isso, havemos de acolher a recomendação de São Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus; cuidai das coisas do alto, não do que é da terra. Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, cheios de glória” (Cl 3,1-4).
Estabelecida a meta de nossa caminhada, é ainda o Apóstolo que nos conta seu modo de viver: “Continuo correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui alcançado pelo Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber, no Cristo Jesus” (Fl 3, 12-14). Se nos oprime a experiência do fracasso e das limitações, dificultando os passos a serem dados, nossa tarefa é reconhecer a própria fraqueza, olhar para o alto e para frente, correr em direção à meta! Quem afirma não ser pecador mente a si mesmo e pretende enganar os outros e o próprio Deus. Quando nos aproximarmos de Deus, no final de nossa caminhada nesta terra, todos teremos a grata surpresa de saber de nossa salvação pela misericórdia infinita de Deus. Daí, podemos nos antecipar, excluindo todo orgulho ou vaidade que possam levar-nos a pensar ser isentos de fraquezas.
Há instrumentos preciosos na vida de Igreja a serem valorizados. Temos à disposição um Sacramento, a Reconciliação ou Penitência. Perseverança exige o recurso à graça que vem de Deus, e o Senhor utiliza homens pecadores como todos os outros, mas revestidos da responsabilidade sacramental de distribuir o perdão. Quem se confessa toma consciência de que a graça de Deus é infinitamente maior do que o pecado cometido. E a confissão sincera, com propósito de vida nova, recebida a absolvição sacramental, restaura a pessoa e a fortalece no caminho.
Muitas pessoas já descobriram, e desejamos que muitas outras o façam, o valor da direção espiritual. Um sacerdote seguro e firme, com o qual os fiéis possam abrir a alma, é um tesouro precioso na Igreja. E sei de muitos padres que dedicam, com gosto e unção, seu tempo e sua riqueza espiritual a este ministério. Saibam os cristãos buscar este recurso.
Mas não só os diretores espirituais são importantes. Os Grupos, Comunidades Eclesiais, Movimentos, tantas propostas oferecidas, caminhos para abertura de alma, partilha de experiências, ajuda mútua. Considero que cada pessoa na Igreja pode e deve encontrar ambientes de partilha, com irmãos e irmãs, no qual a Palavra de Deus meditada, rezada, comunicada através das experiências que edificam e são ajudas preciosas, superando o isolamento e o orgulho de quem se considera autossuficiente. Além disso, o engajamento na Comunidade de Igreja, a participação na Santa Missa Dominical, o envolvimento nas pastorais e atividades paroquiais, são caminhos preciosos para a perseverança.
Podemos ainda interpretar corajosamente as eventuais podas permitidas pelo Senhor em vista de nosso crescimento. É inteligente e sábio saber transformar eventuais dores ou incômodos em oportunidades de purificação, pois “todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 2).
Há dois textos na Escritura que oferecem a “pá de cal” no caminho da perseverança: “Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir” (Lc 18, 1); “Orai sem cessar. Dai graças, em toda e qualquer situação, porque esta é a vontade de Deus, no Cristo Jesus, a vosso respeito” (1 Ts 5, 17). Sim, é necessário pedir, suplicar, louvar, agradecer, vida consistente de oração. Rezar sempre não significa dedicar todo o tempo à oração explícita, mas a busca contínua de sintonia com Deus. Vejamos o que o Senhor nos diz no quinto domingo da Páscoa: “Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jo 15,7-8). Podemos deixar que a seiva da graça proveniente daquele que é a videira e nós os ramos, para que se multipliquem os frutos de amor e serviço ao próximo em nossa vida. Rezará bem e rezará sempre quem refizer continuamente sua escolha de Deus como tudo de sua existência, superando outras muitas escolhas e preferências que possamos ter feito ou fazer. Seja nosso propósito de perseverança permanecer, custe o que custar ligados à videira que é Jesus Cristo, para termos “a liberdade verdadeira e a herança eterna” (Cf. Oração do dia do quinto Domingo da Páscoa).