Reportagem do Jornal da Cidade revela que a situação desse bioma em Sergipe é a pior do país e precisa de ações de recuperação urgentes
O bioma da Caatinga em Sergipe representa cerca de 2/3 de área em todo o estado, estando presente em 42 municípios sergipanos, sendo sete deles em situação de desertificação. O cenário de degradação deste bioma brasileiro em Sergipe, segundo o diretor de desenvolvimento rural sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Valdemar Rodrigues, é um dos mais graves em todo o Brasil.
Valdemar trabalha diretamente com a recuperação ambiental, portanto, ele realiza visitas em áreas que contam com a presença do bioma da Caatinga em todo o país, e com as recentes visitas feitas ele pode constatar que em Sergipe o cenário de degradação é o pior em todo o Nordeste, necessitando urgente de ações de recuperação. “Nessas últimas viagens eu tenho encontrado a caatinga com árvores mortas. Elas não estão secas e resistindo às intempéries. Elas estão mortas. E isso faz com que a capacidade de resistência à seca seja perdida, por causa da erosão dos solos”, acrescentou o diretor.
De acordo com as explicações do estudioso, a Caatinga se difere dos outros biomas por ser o mais estressado pela falta de água, por isso é o único bioma brasileiro que sofre com o fenômeno da seca, segundo Valdemar. Ainda assim, a caatinga tem características de alta resistência, e deveria apresentar respostas adaptativas fortíssimas. Mas, este bioma não tem conseguido resistir à ação humana, pelos constantes desmatamentos e degradação das áreas.
“O nosso bioma da Caatinga, apesar de ser um dos que mais sofrem pressão climática, desenvolveu uma resistência muito grande. Mas essa resistência foi enfraquecida pela ação humana. O desmatamento fez com que, embora seja forte, mas, sendo castigado o tempo todo por ações humanas, e não pelo clima, hoje, o bioma da Caatinga sofra inclusive com a seca”, explicou Valdemar.
Segundo Valdemar, a importância de recuperar essas áreas degradadas se dá porque ao restaurar o meio ambiente, contribui-se para a recuperação da capacidade produtiva de cada local. Valdemar explica ainda que quando acontece o desmatamento, além de perder o bioma da Caatinga, o solo fica exposto. Quando a chuva vem, faz uma erosão e o solo se decompõe, deixando o local
com uma área estéril, sem a capacidade de produzir. O que era um solo produtivo vira areia nas barragens, nos rios e nas represas.
“Quando vier uma chuva, ele não tem mais onde guardar água, porque a represa estará cheia de areia, então a água se perde e vai para o mar. Cada vez mais isso vai intensificando o efeito da seca. A seca é a mesma, mas a nossa vulnerabilidade está cada dia maior”, ressaltou.
Ação nos municípios
A discussão sobre a Caatinga em Sergipe foi levantada durante um workshop realizado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) na última terça-feira (25), em comemoração ao Dia Nacional da Caatinga, que acontece na próxima sexta-feira (28), pela preocupação e necessidade urgente em recuperar as áreas de Caatinga no estado. Nos próximos meses uma ação será desenvolvida em Sergipe com a instalação de Unidades de Área Degradada (Urad), inicialmente destinada para 10 comunidades de sete municípios do Alto Sertão sergipano.
O secretário da Semarh, Olivier Chagas, reforça que o objetivo é aumentar a proporção do projeto e alcançar muito mais comunidades com a instalação das Urad’s, porém, a priori, utilizando os recursos do Ministério do Meio Ambiente, que chegam a R$ 5 milhões, apenas 10 comunidades serão pleiteadas, onde serão destinados R$ 500 mil para cada uma.
Três fatores norteiam a ação: a preservação ambiental, assistência social e incentivo à economia das regiões, para assim poder dar condição ao homem sertanejo de fazer a preservação do meio ambiente e também poder viver. O edital para o programa já está pronto e a ação deve iniciar dentro de dois ou três meses, conforme
garantiu o secretário.
“Não adianta a gente chegar numa comunidade que vive há séculos sob a cultura de degradação, usando o solo de forma irregular e promovendo queimadas, e dizer que a partir de agora vamos recuperar nossas matas sem dar condição de eles se adaptarem aquilo. É preservação ambiental e é adaptação necessária que precisa acontecer por parte da sociedade local”, concluiu Chagas.
Fonte: Jornal da Cidade (Edição de 26.04.2017)
Texto de Laís de Melo