Para o Dia Mundial da Paz, Bento 16 propõe à reflexão de todos a vinculação entre a pobreza e a paz. Começa constatando a dinâmica, onde a pobreza se encontra entre os fatores que desencadeiam os conflitos, que por sua vez acabam agravando ainda mais as situações de pobreza.

Diante desta constatação, Bento 16 lança o desafio, para ser assumido solidariamente, neste tempo de globalização em que nos encontramos:  “combater a pobreza – construir a paz”.

O ano de 2009 começa cheio de apreensões, face à crise econômica, nascida no centro do sistema, trazendo em conseqüência uma dinâmica inerente de propagação. As interrogações se referem não só à extensão da contaminação da crise, mas também à profundidade que ela terá, levantando sérias questões sobre o agravamento das situações de pobreza no mundo.

Em meio aos desafios que a situação de crise generalizada do sistema econômico mundial está levantando, é muito oportuno o apelo do Papa para uma convicta atitude de solidariedade para com as populações que serão mais atingidas pelas conseqüências da crise, tanto nos países centrais como nos países periféricos do sistema econômico mundial.

O desencadear da crise já mostrou uma desproporção evidente na destinação dos recursos. Quando se trata de socorrer instituições financeiras, as cifras são astronômicas,  e parece não existirem limites para salvar os bancos. Mas quando se faz as contas de quanto se precisaria para acabar com a fome no mundo, o montante nem seria tanto, mas paira sempre no ar a constrangedora impressão de que não vale a pena gastar dinheiro para salvar os pobres.

O apelo do Papa, vinculando a pobreza com a paz,  independente do que ele diz ou deixa de dizer, traz consigo o ineludível  desafio de colocar a questão básica da finalidade verdadeira da economia: ela está a serviço da vida, ou não?  E se está, o critério de averiguação do seu sucesso não pode ser o lucro, mas o atendimento das necessidades vitais de toda a população mundial, independentemente das regiões geográficas em que esta população se encontre.

A atual crise econômica mundial oferece a oportunidade para repensar as finalidades essenciais e as condições básicas para um verdadeiro projeto de desenvolvimento sustentável, em nível mundial, compatível com os recursos que o planeta nos oferece, e que precisam ser usados com critério e com responsabilidade.

Para evitar caminhos equivocados de combate à pobreza, o Papa aponta alguns âmbitos que mais necessitam de atenção. O primeiro deles é ligado à demografia, em que entra em jogo o tamanho da população mundial. Ele observa que os países que mostram dinamismo demográfico são os que apresentam hoje melhores índices de crescimento econômico, e com isto fica desmentida a suposição de que as taxas de natalidade são empecilho para o crescimento econômico. Mas é de observar que, neste contexto, ao mesmo tempo o Papa cita a surpreendente cifra da duplicação da população mundial a partir da segunda grande guerra até hoje, numa evidente alusão à responsabilidade com que deve ser olhado hoje o crescimento demográfico, que transcende a dimensão da ética individual para assumir dimensão de espécie humana.

O Papa faz também referência às pandemias, citando a malária, a tuberculose e  a aids, para cujo combate ele advoga, corajosamente, a quebra dos patenteamentos, em vista da urgência de sua utilização em defesa da vida das populações pobres.  Ele questiona com força os gastos que ainda hoje são destinados a programas armamentistas sem sentido e sem justificativas. Lembra que as primeiras vítimas da fome são as crianças, e observa que a crise alimentar atual está elevando as cifras dos desnutridos no mundo.

Uma mensagem, portanto, carregada de razões, e dirigida à consciência de todos.

Dom Luiz Demétrio Valentini

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