Desde o mês de agosto agüentamos a proliferação de carros de som com propagandas eleitorais – certamente inúteis, ó caros candidatos! Além de lhes onerar, corroboram para a desconstrução da cidadania, provocando a ditadura da zoada, aumentando a poluição sonora. Candidatos de origem abastada gastaram fortunas. Claro que eles estão cheios da grana. Candidatos de origem humilde que os imitaram, sem condições financeiras, perderam tempo e credibilidade. Será que vossas senhorias nem desconfiam que o povo “está em outra”? Nosso povo superou a fase do “oba oba”. O povo adquire maior capacidade de discernimento sobre as verdadeiras motivações de candidaturas. Ora, vossas senhorias se lembrem que, como candidatos, representam não a si mesmos e sim aos seus respectivos partidos. Propagandas em alto e bom som, de gosto duvidoso, podem atrapalhar mais do que ajudá-los.
A poluição sonora tolhe-nos ainda mais os poucos espaços, a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada. Em qual mundo viemos parar! Perdemos a liberdade de concentração no trabalho, de caminhar mais tranqüilamente pelas ruas ou de um justo e indispensável repouso, dentro de nosso próprio lar, refazendo nossas energias e destinando atenção para os nossos semelhantes. Dentro de casa somos prisioneiros. Já não basta o cerceamento de nossa liberdade, constrangidos pela violência generalizada? Pouco nós saímos de casa, chaveados de cima a baixo, por medo do crime organizado ou dos marmanjos que vivem soltos, gozando de todos os direitos para a prática de atos criminosos.
Ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude da Lei. A todo cidadão de bem é garantida a liberdade como direito fundamental, creditado no art. 5º, inciso II, da Constituição Federal. No entanto, diariamente, a minha liberdade e a de milhares de cidadãos de bem é tolhida violentamente. Repito, seja pelo crime organizado ou tópico, seja por outro crime ambiental, a poluição sonora e visual, estamos sendo obrigados a nos submeter à ditadura da zoada. A onipresença da barulhada provoca em nós a neurastenia crônica, perseguindo-nos qual tortura chinesa. Percebem os caros leitores (e eleitores) como dificilmente conseguimos nos concentrar, mantendo uma conversa amena, trabalhando ou estudando? Em quaisquer ambientes somos incomodados pela poluição sonora, inoportuna, irritante. Nossa liberdade está cerceada, definitivamente.
Há pouco mais de ano moro no Caricé. Das barracas da Lagoa a poluição sonora consegue penetrar num edifício onde habitam muitas pessoas idosas, bem como famílias com suas crianças. As berrarias penetram pelas madrugadas. Entre outras torturas diárias, prima pela deseducação irritante, um karaokê, com gente desafinada berrando como vampiro. Ah, meu Deus, estou pagando pelos meus pecados, merecendo esse castigo. Sabem que até me deu saudades da buzina do Chacrinha e do gongo do Flávio Cavalcante? Lembram-se? Que tal fundar o “movimento dos sem sossego”? A complacência do poder público favorece a violação dos direitos dos cidadãos.