Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André

 

 Nossa sociedade tem muitas religiões e religiosidades, mas a fé capaz de mudar vidas, escasseia. O individualismo dominante rejeita a fé comunitária e cada vez mais as pessoas vivem a religião da maneira que lhes convém. A fé se tornou assunto privado. Na maioria dos casos não se nega a existência de Deus, vive-se como se Ele não existisse: “sicut Deus non daretur”. Lembro-me de Millôr Fernandes que traduz de maneira irônica esta situação: “O ateu tem um deus no qual nem ele mesmo acredita”.

A Bíblia contém a Palavra de Deus revelada, ela alerta para a necessidade de conversão: “Se não vos converterdes perecereis” (Lc 13, 1-9). Jesus narra a parábola da figueira estéril que não dava frutos. O dono do pomar vai buscar frutos todo ano e não encontra. Então, diz ao empregado para cortar o pé de figo. O empregado pede uma chance, cuidaria melhor, iria colocar adubo e quem sabe no próximo ano os frutos apareceriam. O senhor concordou: mais um ano, depois será cortada.

Esta parábola da figueira revela um Deus paciente, mas que espera que nossa fé se traduza em atos concretos: fraternidade, partilha, luta contra as injustiças, desprendimento das riquezas, superação dos nosso vícios, serviço aos pobres. Se assim não for, seremos cortados, ou seja, não nos realizaremos como pessoas. Desligados de Deus nossa vida não tem futuro nem aqui e nem na eternidade. Estaremos condenados à autodestruição.

A Quaresma, com seu chamado à conversão e penitência, não teria sentido se não tivéssemos consciência de que somos pecadores: não damos frutos para Deus! O pecado é esterilidade, não fica sem consequências. Ou nos convertemos de nosso pecados, e damos frutos de justiça e caridade, ou sofreremos a justiça de Deus. Por mais misericordioso e paciente que Deus seja, a justiça também faz parte de sua bondade. Não seria bom se não fosse justo.

A conversão é mudança de atitude e rumo; é mensagem central do Evangelho. Jesus ensina que as catástrofes, desastres e violências existentes ao nosso redor, não são castigos de Deus. Muitas vezes são provocadas pelo homem, além de serem em outros casos reações da própria matéria que não compreendemos bem. São, no entanto, do ponto de vista da fé, advertências, avisos de Deus para que nos convertamos. Se não tomarmos a iniciativa de nos purificar de nossas maldades, Deus tomará a inciativa de oferecer-nos, mais concretamente, estas oportunidades de purificar-nos.

Tanto a nível pessoal como social, precisa-se de conversão. “Se não vos converterdes perecereis”, alerta Jesus. Sem andar pelos caminhos de Deus o homem se destrói. A conversão é purificação dos pecados ou penitência (aspecto negativo), é também dar bons frutos de compromisso cristão, boas obras, ética e altruísmo (aspecto positivo). A penitência faz parte da vida: se queres alcançar um objetivo tens que lutar. Veja o caso de quem quer ter um corpo “sarado”, vai à Academia e faz a maior penitência, digo malhação. A nível espiritual pode se fazer a mesma coisa.

A idolatria do dinheiro e a corrupção geram injustiça e opressão com seus frutos de desemprego, falta de escolas, moradia e o pior: falta de perspectiva de vida. Conversão para Deus é conversão para o Amor e a caridade, sem isto é a autoanulação nível pessoal e social.

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