Novo Ano Litúrgico começa. Um mês, chamado Advento, com ajuda de leituras bíblicas e orações recorda o Antigo Testamento ao exprimir em preces o desejo ardente para que
logo venha o prometido, o Salvador.
Advento significa vinda. Tempo do Advento é, portanto, tempo de espera de alguém que deve chegar. A espera pode também se tornar incômoda. Ocorre estar vigilantes, muitas vezes inquietos. Na verdade, o cristão, enquanto for inquieto para se preparar, poderá estar tranqüilo. É o sentido da espera cristã e do Advento.
Seis séculos antes de Cristo, o profeta Isaias, 63,16 e seguintes, faz uma oração, que exprime tristeza, para pedir a intervenção de Deus a favor do seu povo em angústia. Israel fora conduzido em escravidão à Babilônia, mas no ano 539 a.C., o imperador persa Ciro lhe restituiu a liberdade. Pouco a pouco os exilados foram retornando. Encontravam suas terras ocupadas por outros, estavam muito pobres. Mas eram ricos de sonhos, queriam construir um novo templo ao Senhor, ainda que faltassem os meios. Enfrentavam perigos de toda parte. Sinal que a liberdade tanto suspirada, sozinha, não bastava. Não podiam estar tranqüilos.
Com sua oração em nome do povo, o profeta exprimia expectativas ansiosas de Israel, suas inquietudes, seus temores. Suplicava a Deus para vir ao encontro do povo. “Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de ti”.
O apóstolo Paulo, na 1Coríntios 1,3-9, descreve uma situação oposta. Jesus o Salvador veio. Paulo pregou o evangelho, incansavelmente. Muitas pessoas em Corinto acolheram a sua palavra e agora vivem na fé. Paulo está cheio de alegria. Aqueles cristãos vivem de modo irrepreensível, esperando a vinda final de Jesus Cristo. Esta expectativa os mantem em tensão, tensão moral que os faz solícitos no bem. A sua certeza, como a de todo cristão, se apóia, portanto, em Jesus. Ele tinha preanunciado a sua vinda no fim dos tempos, e tinha indicado a modalidade da espera.
O evangelho de hoje, Marcos 13,33-37, o explica. Jesus se encontrava em Jerusalém. Logo o prenderiam e o condenariam à morte. Ia quase todos os dias ao Templo. Esse era belo. Imponente. Revestido de mármore. Os hebreus disso tinha grande orgulho. Naquele dia o fizeram notar ao Senhor. Jesus porem lhes respondeu: “Vedes estas grandes construções? Não ficará aqui pedra sobre pedra, tudo será destruído!” Os discípulos queriam saber quando isso sucederia. Mas Jesus passou a falar de acontecimentos ainda mais longínquos, do fim dos tempos. E contou-lhes uma parábola.
É a história de um patrão que construiu uma grande casa, contratou muitos servos para aí trabalharem, cada uma com precisa incumbência. Deu poder aos servos. Esta é também a história da humanidade.
Aos homens foi dado o poder sobre o mundo, uma incumbência a cumprir. Mas os homens sabem também que o patrão ao retorno quererá ver que coisa fizeram, qual uso feito do seu poder, das coisas colocadas em suas mãos. O propósito de Jesus é claro: “Vigiai”. O motivo: “Porque não sabeis quando o patrão de casa voltará”.
Quando voltará? Jesus indica quatro momentos possíveis, conforme o modo antigo de dividir o tempo: “Ao entardecer, à meia noite, de madrugada ou ao amanhecer.” E Jesus acrescenta: “Vigiai, portanto, para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”.
Podemos assumir atitude contrária, dormir. Muitos o fazem. Muitos estão assoberbados pela fadiga de buscar os bens materiais. Em relação aos valores do espírito dormem profundamente. Não refletem sobre o sentido da vida, não se empenham em lhe dar um conteúdo digno do homem. São consumistas e consumidos.
Muitos se comportam dentro de egoísmo cego, que não conhece Deus, que endurece o coração e leva ao ódio. Não possuem, mas querem ter a todo o custo, enraivecem-se, rebelam-se. Dão pouca atenção aos valores do espírito.
Muitos vivem dia após dia, como vem. Não fazem perguntas e não procuram respostas. Como se procurassem um despertador que lhes dissesse a que hora devem levantar-se. Mas existe um despertador que se chama Evangelho.
O Senhor quer nos encontrar não adormentados, mas cristãos conscientes e atentos.