Dom Aldo Di Cillo Pagotto
O Papa Bento XVI foi provocado pelo jornalista Peter Seewald numa série de entrevistas transcritas no livro “Luz do mundo, o Papa, a Igreja, os Sinais dos Tempos”. As provocações feitas ao Papa são as mesmas que qualquer um de nós enfrenta. Algumas questões colocadas: a doença está no mundo. Adolescentes e jovens iniciam-se cedo no sexo. Sexo é vida, liberado. Gravidez indesejada. E aí?
O Papa leva à reflexão sobre o significado do relacionamento afetivo e sexual. A resposta religiosa não pode ser imediatista como se a camisinha evitasse ou resolvesse qualquer problema. A resposta merece reflexão sobre o sentido da afetividade e da sexualidade. Ambas são dimensões constitutivas e inseparáveis. Admita-se: nem toda relação sexual expressa verdadeiro amor e, sim, um instinto passional da natureza.
O Papa surpreende ante a provocação e cita o caso de alguém que se prostitui e usa um preservativo evitando contaminar a si ou outro alguém. Essa pessoa tem consciência sobre o ato, fazendo o que não deveria. Mesmo assim, ao usar o profilático, percebe-se o sinal de um alerta moral, pois nem tudo aquilo que a gente faz é correto. Há mais: hoje qualquer um consegue ter preservativos à mão. Entretanto, o problema não se resolve somente com invólucro de látex.
Antes ou depois que uma pessoa se contamine precisará de ajuda e orientação para além do uso de preservativo. Percebe-se que as pessoas merecem muito mais do que ter preservativos à mão. Precisam da educação para o amor, na busca e na construção do sentido da vida afetiva e sexual.
Se o uso de preservativos eventualmente ajude alguém a evitar pegar doença, o que não pode faltar é o compromisso de amor, o respeito pela vida, a exigência de reciprocidade. O simples uso de preservativos pode levar as pessoas a se usarem e depois se descartarem, tal como se faz com uma camisa de látex depois de usada.
Pergunta-se pelo sentido que buscamos e somos capazes de dar aos nossos relacionamentos profundos, mais harmonizados, humanizados. A Igreja não deve se meter na cama de casal com discursos moralistas, embora reprove o desregramento moral, a banalização e promiscuidade sexual. A missão da Igreja é ajudar as pessoas a se tornarem mais humanas, orientando-as ou admoestando-as para que seu convívio de amor seja vivenciado à luz do Evangelho e da prática do bom senso.