Amós, trabalhador rural, não se sentia em condições de ser pregador da palavra de Deus para o povo. No entanto, Deus o escolheu para isso. “Vai profetizar para Israel, meu povo” (Am 7, 15). Para isso, ele teve que se desinstalar de sua vida de pastoreio de rebanho para exercer uma vocação especial. O mandato divino lhe custou muito. Até perseguição. Mas não se curvou à própria vontade. Obedeceu ao Senhor.
Muitas vezes, o pecado de omissão faz gerar injustiças. A má política deve ser denunciada. Os crimes dos colarinhos brancos não podem ficar impunes. A sociedade precisa aumentar seu poder de transformação, através da consciência construída dentro de valores com referências éticas e de justiça. A compra e a venda de votos precisam ser banidas. Os cargos de liderança social precisam ser ocupados e exercidos por pessoas de caráter. Tudo isso requer formação para a cidadania e profetismo. Jesus deu aos discípulos a missão de irem a todos os lugares para anunciar a Boa Nova da libertação. Mas advertiu-os sobre as oposições que iriam enfrentar, até mesmo a do martírio, a exemplo dele mesmo.
Profetizar é mais do que denunciar erros. É colocar-se a favor da verdade e da justiça, com o exemplo de serviço e promoção do bem da pessoa humana. É ajudar a formar o caráter com espírito crítico e a consciência reta, na construção da personalidade. É assumir a fé que leve a pessoa a realizar o projeto inteiro de Deus, como a cruz com as duas hastes, vertical, de união com Deus, e horizontal, com convivência de justiça e amor ao semelhante. Para isso, é preciso cada um sair do comodismo ou da inércia para ajudar a comunidade a ter formação e atuação com a promoção do bem comum.
Os empobrecidos devem ter vez e ser mais incluídos no convívio verdadeiramente humano. Quem recebe formação adequada para a vida de fraternidade vai ter acesso à orientação para viver compromissadamente sua fé. Profetizar, então, se torna missão de ajuda a consertar o que desorienta as pessoas do caminho de vida digna e de colaboração para que isso aconteça.
A missão dada por Jesus aos discípulos exige o testemunho de vida coerente com a fé, o espírito de serviço, a promoção do diálogo e o contínuo anúncio de valores inerentes ao ser humano, com a defesa e promoção da vida, da família, de cada pessoa humana e do meio ambiente. O testemunho de vida simples, de solidariedade com os excluídos, de inconformismo com o paganismo e do serviço público mal encaminhado, com o uso da posição de liderança para explorar os pobres deve ser uma constante por parte de quem aceita a missão profética.
A mão do profeta é colocada na ferida para curá-la e ser um bem à pessoa que a tem e a toda a comunidade. A sangria moral da sociedade é a mais procurada pelo profeta a fim de fazê-la estancar. Quem produz o mal ao semelhante precisa ser impedido de fazê-lo para termos mais convivência na solidariedade e no amor. Deus quer o bem de todos nós. Seu Filho foi-nos enviado para ser o profeta instituidor do profetismo para sanar e dar vida a todos. Seus seguidores não podem perder sua força para continuarem na história a implantação dos critérios que orientam a convivência humana para a felicidade de todos.
