“Minha experiência de voluntária foi magnifica. Eu era uma pessoa antes de ir para o Timor-Leste voltei outra pessoa. A experiência vivenciada com os estudantes de teologia e filosofia contribuiu para uma renovação tanto espiritual quanto profissional. Espiritual, porque possibilitou compreender um universo religioso com forte base animista e do catolicismo tradicional. Pude perceber, também, a dificuldade da Igreja no processo de evangelização, de modo particular, com as juventudes devido a instauração de sistemas econômicos e tecnológicos, que atraem às juventudes. Profissionalmente, pude experienciar “uma fome” de saber, de conhecimentos. Por um lado, os jovens estão motivados em busca de uma profissão, por outro encontram-se desmotivados por falta espaços, empresas, indústrias que possam empregar o universo juvenil”, destaca a professora da PUC do Paraná, Clélia Peretti.
Esse testemunho da professora de metodologia da pesquisa cientifica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) é um entre as centenas de experiências de vida de voluntários brasileiros que foram em missão para Díli, capital do Timor Leste.
A professora Clélia é uma das docentes selecionada para integrar o Projeto de Solidariedade entre as Igrejas do Brasil e do Timor Leste, que surgiu ainda em 2012, após o 10º Encontro da Conferência dos Bispos de Países Lusófonos (CPLP). O objetivo é cooperar com as Igrejas locais do sudeste asiático, no que diz respeito à formação dos seminaristas nas áreas de Filosofia, Teologia e Língua Portuguesa.
O projeto de cooperação é um convênio que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial, e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) mantém com a arquidiocese de Díli, no Timor Leste para envio de professores que a cada semestre são enviados para auxiliar na formação dos futuros presbíteros e de professores através dos cursos de mestrado e doutorado.
O professor e coordenador do projeto na PUCPR, Mário Antônio Sanches, que já que lecionou as disciplinas de Bioética e Antropologia no curso de Filosofia do Instituto Superior de Filosofia e Teologia Dom Jaime Garcia Goulart, na capital Díli destaca que a questão missionária principal do projeto é a acolhida que a CNBB e a PUCPR fizeram de uma demanda dos Bispos do Timor-Leste.
“É uma ação missionária realizada a partir de uma demanda do Timor-Leste e não uma proposta que surge no Brasil. Deste modo a missão é mais clara: ajudar o próprio país de destino a realizar seus projetos próprios. Há um enriquecimento eclesial também do Brasil em dois sentidos, os docentes que participaram do projeto saem efetivamente impactados positivamente pelo testemunho da Igreja do Timor e os padres que estão estudando em Curitiba (PR) atuam efetivamente na arquidiocese como sacerdotes”, enfatiza o professor.
A maioria dos docentes enviados são de três programas de Pós-Graduação da PUCPR dos cursos de Teologia, Filosofia e Bioética. As atividades dos docentes incluem aulas no Instituto Superior de Filosofia e Teologia de Díli, onde lecionaram diversas disciplinas, conforme a sua área de formação. Também fez parte do projeto um Curso de Formação Continuada para o clero local.
Para a professora Clélia, o rosto missionário deste projeto se reflete na formação das juventudes. “Ele representa uma grande contribuição para a sociedade timorense e de modo particular para a Igreja. A falta de professores, educadores sociais profissionais preparados para as diferentes áreas faz com que o Timor-Leste continua sendo vítima de outras formas de colonização. Um dos atuais desafios do Timor-Leste é desenvolver e implementar direitos socais e do meio ambiente, sem se deixar seduzir pela ideia do lucro”, destacou.
Sobre as dificuldades, os professores apontam a questão da língua como principal. “Embora fala-se o português, os mais jovens falam mais em inglês e Tetum. A compreensão da cultura do povo timorense, uma cultura sincretista e reflete as diferentes tribos”, disse a professora Clélia.
“Leciono em português, ciente que os alunos não têm um domínio razoável da língua. Nota-se também uma diversidade étnica entre os alunos, o que enriquece o processo educativo, mas o torna também mais exigente”, apontou o professor Mário.
Dados e histórico
Desde o ano 2000, a Igreja no Brasil mantém o Projeto Missionário Ad Gentes com a Igreja no Timor. Trata-se de uma ajuda para manter o trabalho missionário no Timor Leste com as ações pastorais, sociais e de amparo ao povo timorense. O projeto chegou ao fim em 2018, mas teve início outro passo importante – o de ajudar padres locais a terem formação e especialização para que não seja mais necessário o envio de professores estrangeiros. Atualmente, a renovação do projeto está em andamento.
Nesta nova fase da parceria, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ofereceu gratuitamente todo o curso de mestrado e doutorado para essa formação. Atualmente, 21 estudantes foram selecionados para os cursos. Dois professores já concluíram o mestrado, por meio da formação da PUC-PR e outros dois que ainda estão em fase de conclusão do doutorado. Além do envio de professores para a formação de presbíteros, existe a demanda para a criação da Universidade Católica do Timor Leste.
A Diocese de Díli ocupa a parte central do Timor-Leste. Abrange 4.775 quilômetros quadrados e subdivide-se em cinco distritos. Dos cerca de 514.089 mil habitantes, 92% se declaram católicos (dados de 2002). Há 149 sacerdotes, sendo 63 diocesanos e 86 religiosos. Estão à frente da Pastoral 132 irmãos religiosos e 432 religiosas. Há 98 seminaristas maiores. A Diocese adota o serviço de inúmeros catequistas. Timor Leste conta com 11 línguas e 31 dialetos, apesar da importância do português. A Arquidiocese de Díli, tem como sufragâneas as Dioceses de Baucau e Maliana.