Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
A parábola do bom samaritano, que Papa Francisco usa na Encíclica “Fratelli Tutti”, desperta nas pessoas situações inusitadas. Um desconhecido, samaritano, consegue enxergar nas dificuldades do caminho oportunidade para praticar a caridade fraterna. Ele sentiu que o bem não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, valoriza a dignidade que está presenta na vida de cada pessoa humana.
No tempo de Jesus os judeus desprezavam os samaritanos e os consideravam como seres impuros. Portanto, não olhavam para eles como próximos. As atitudes eram como fizeram o sacerdote e o levita, que viram o ferido caído pelo chão e não cuidaram dele. O samaritano, que deu atenção, demonstrou que próximo é todo aquele que necessita de ajuda nos momentos mais difíceis da vida.
O Papa Francisco diz que as pessoas devem ser próximas umas das outras, porque o outro necessita de ajuda. Não é o fato dele vir a mim, mas eu ir até ele. Para isto temos que ultrapassar barreiras culturais e históricas como aconteceu com o judeu ferido e o samaritano que o acudiu. Os judeus miravam os samaritanos como pagãos, como povo insensato. Mas fazer o bem não depende de fé.
Não pode existir fronteira quando há necessidade de ajuda ao próximo. No Poço de Jacó Jesus, que era judeu, pede água para beber a uma mulher samaritana, passando por cima de todo tipo de preconceito ideológico do tempo. O preconceito entre os judeus e os samaritanos era tão grande que os judeus chegaram a chamar Jesus de possuidor do demônio e de samaritano (cf. Jo 8,48).
As atitudes de Jesus têm uma dimensão de transcendência, porque amar o irmão significa amar o próprio Deus presente em cada pessoa (cf. Mt 25,40). Todos nós temos uma dignidade infinita que nos capacita para o encontro com a vida íntima de Deus. Sendo assim, diz o Papa Francisco, por que a Igreja demorou condenar a prática de escravidão e várias formas de violência contra as pessoas?
Estamos em novos tempos, com uma espiritualidade e uma teologia mais evoluídas. Isso significa que não é cabível tolerar atos de violência desumanos contra o ser humano, que é imagem e semelhança de Deus. O Papa remete à catequese e às pregações o compromisso de um senso crítico e profético diante de tais realidades para formar uma cultura de maior respeito para com as pessoas.