Ptolomeu ou Copérnico? A terra com a palavra!

Dom Redovino Rizzardo

Como até as crianças sabem, durante milhares (ou milhões?) de anos, a terra era considerada o centro do universo. Todos os astros e planetas se curvavam diante dela e giravam ao seu redor. Era uma convicção da qual ninguém duvidava. Sábios como Platão, Aristóteles e Sócrates morreram felizes com essa certeza. A própria Bíblia e todas as religiões concordavam com ela. Aí pelo ano 150 da era cristã, a teoria foi transformada em ciência por Cláudio Ptolomeu, e o geocentrismo reinou soberano por séculos e séculos.

Contudo, com a chegada de Nicolau Copérnico ao mundo em 1473, tudo mudou. Apesar de ser padre católico, ele “excomungou” Ptolomeu e “inventou” o heliocentrismo. A partir daquele momento, a terra perdeu a sua hegemonia e teve que rodar, como qualquer outro planeta, em torno do sol. Copérnico morreu em 1543, sem nada conseguir provar. Quem o fez foi Galileu Galilei, em 1609, a partir do telescópio, que o ajudou a descobrir o que há de verdade no céu…

Evidentemente, com essa reviravolta, a terra diminuiu de importância. O que ela significa diante de centenas de bilhões de astros que enriquecem o universo? Escrevi “centenas de bilhões de astros” porque, num programa de televisão, o apresentador afirmou que as estrelas do céu são mais numerosas que a areia das praias. Será verdade? Se assim for, a terra não tem muito para se orgulhar ante a infinidade de galáxias que iluminam as nossas noites…

Mas não é assim que Deus pensa. Para ele, continua válido o geocentrismo. Quem o lembra é São João, o apóstolo que mais entendeu o projeto de Deus: «Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito» (Jo 3,16). Num universo que parece infinito, somente este minúsculo grão de areia, que é a terra, mereceu ser olhado com predileção por Deus. Eis uma pergunta que arrepia e exalta: por que Deus escolheu exatamente a terra, entre “centenas de bilhões de astros” para nela colocar sua obra-prima, o ser humano?

É a pergunta que se fazem todos os que se extasiam ante a imponência do universo e a perfeição do corpo humano. Em outras palavras: não se sabe o que mais admirar, se a ordem e a grandiosidade do macrocosmo ou a complexidade e a harmonia do microcosmo… Pergunta que a Bíblia fazia há milhares de anos: «Contemplando estes céus que plasmaste e formaste com dedos de artista, vendo a lua e as estrelas brilhantes, pergunto: Senhor, que é o homem para dele assim te lembrares e o tratares com tanto carinho? Pouco menos de um deus o fizeste, e o coroaste de glória e esplendor. Sobre as obras de tuas mãos o fizeste reinar, e a seus pés tudo colocaste» (Sl 8,4-7).

É por isto que a terra continua sendo o centro do universo. Contudo, se Deus a escolheu e preferiu dentre a multidão de astros e planetas que brilham no firmamento, o motivo é apenas um: ele a preparou para ser a morada de seus filhos e filhas. Sendo amor, Deus quis partilhar suas perfeições com quem o pudesse compreender e acolher, razão porque criou o homem «à sua imagem e semelhança» (Gn 1,26). Mais tarde, através de Jesus, esse amor foi levado «às últimas conseqüências» (Cf. Jo 13,1): «Vede que grande amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato!» (1Jo 3,1). Apesar de insignificante e minúsculo num universo de dimensões infinitas, graças à sua inteligência, o homem abraça e domina o cosmo com todas as suas galáxias.

Se um só foi o motivo da criação do homem, uma só também é a tarefa que recebeu: «O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para que o cultivasse e guardasse» (Gn 2,15). Deus criou a terra, mas confiou seu “cultivo” e sua “guarda” ao homem: “cultivo” é o desenvolvimento integral da pessoa, tomada em sua unidade de corpo, alma e espírito; “guarda” é o cuidado atento e carinhoso pela natureza e pelo meio-ambiente.

«Se Deus nos amou tanto, nós também devemos amar os nossos irmãos» (1Jo 4,11), começando pela residência comum que nos foi dada, a mãe-terra.

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