Quando Ele quer o retorno

Dom Adelar Baruffi
Arcebispo de Cascavel (PR)

Estamos novamente, com alegria, citando Fulton Sheen, O sacerdote não se pertence, São Paulo, Molokai, 2020. Os pensamentos são todos do livro citado, menos o do Papa Francisco.

 Deus conhece nosso caminhar. Coloca à nossa disposição, sempre, sua misericórdia. Quando Jesus foi levado ao pátio, seu rosto coberto de cusparadas, Ele “se voltou e olhou para Pedro” (Lc 22,61). Neste momento, o Mestre estava algemado, abandonado e rejeitado. E, no entanto, não desiste. Volta-se e olha para Pedro. Com infinita bondade e piedade, seus olhos buscam aquele que acabava de decepcioná-lo. Não disse nenhuma palavra. Só olhou! Para Pedro, quer refrescar a sua memória. O fato de que o Senhor teve que de se voltar para olhar para Pedro significava que Pedro dera as costas para o Senhor. “E Pedro saiu e chorou amargamente” (Lc 22,62).

Papa Francisco nos falou tantas vezes de superar toda a indiferença e raiva interior. Chorar também é humano. Não tenhamos medo de chorar. Chorar diante dos sofrimentos pessoais e, também, dos sofrimentos dos outros. Chorar pelos pobres de nossas comunidades. Pelas crianças que sofreram abusos. Pelas mortas pelo aborto. Pelos injustiçados. As lágrimas são associadas ao verdadeiro entendimento do pecado.

Pedro estava cheio de arrependimento. Judas cheio de remorsos. Jesus usou da mesma misericórdia de sempre. Durante sua vida e, principalmente, agora, na hora de sua paixão, como ao ladrão penitente. Pedro negou conhecer “o homem”, mesmo se fosse um dos seus discípulos.

Não disse Jesus: Eu bem que lhe disse. Nenhuma palavra de condenação atravessou seus lábios. Só um olhar, um único olhar de amor ferido. Assim é a misericórdia de Cristo, quando lhe somos infiéis e desleais. Busca trazer-nos de volta, por meio de privilégios e da misericórdia renovada. Não foi Pedro que pensou em voltar, mas o Senhor. Pedro, por ser culpado, teria preferido olhar para qualquer outro lugar, mas o Senhor olhou para ele. Todos sabemos que o Senhor se volta primeiro para nós. A misericórdia nos precede e renova sempre. Aquele que diz: “como sou um idiota”, em vez de “Senhor, tende piedade de mim, pecador”, ainda está longe de renascer.

Olhar sempre para o crucificado. Deixar-se olhar por ele. Pecamos contra uma pessoa humana ou divina. O pesar sempre está relacionado com o crucifixo, onde cada um de nós lê a própria autobiografia. Vemos a nós mesmos diante da total bondade e santidade de Deus. A diferença entre o pecador e o santo é que um persiste no pecado, enquanto o outro chora amargamente. Judas, diferente de Pedro, não tinha coração para rezar. Nem buscou o rosto de Deus para pedir misericórdia. Pedro, porém, teve pesar. Humilhou-se, não se enrijeceu.

Aproveitemos este tempo para buscar a confissão!

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