Quatro olhares sobre o CODIV 19

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

 

Parece que, como afirma o bioeticista Giovanni Berlinguer, houve uma unificação “microbiana” do mundo, no entanto as percepções e olhares são muito diferentes. Um primeiro olhar procede das máfias religiosas (não das autênticas religiões) que consideram o vírus satânico, enviado pelo demônio, castigo divino e de sinal do fim do mundo.

Embora o vírus não deixe de estar dentro da Providência divina, esta leitura intimidatória e chantagista, oculta o rosto do Deus amoroso e compassivo e sua vontade de salvar a todos/as, não de destruir a humanidade. Outra visão manifesta ao longo da história das epidemias, é o olhar preconceituoso de base étnica ou nacionalista, chamaram a sífilis de mal francês (gallicus), de mal napolitano e, finalmente, de mal português; os judeus foram acusados como transmissores da peste negra; os irlandeses, pelo cólera em New York; os italianos, pela poliomielite no Brooklin e, agora, o CODIV 19 é chinês.

Os vírus não têm passaporte, pátria ou nacionalidade, julgar assim é personalizar os vírus e etiquetar pessoas como culpadas ou bodes expiatórios, como bem explica René Girard. Outra perspectiva caolha é a conspiratória e estratégica do Biopoder, ou da Bioviolência, inspirada nas práticas abomináveis de grupos ou Estados terroristas.

Sem dúvida, devemos nos defender contra estas armas químicas, que tratam de escalar os vírus como soldados, mas atribuir a esta atitude genocida toda epidemia nos leva a paralisia e ao pânico.

Sim, existe a possibilidade de um quarto olhar, mais humano, cristão e ecumênico, que considera o vírus como um chamado a ter uma consciência mais unida, universal, pois somos uma só espécie, e família, a Terra inteira é nossa Arca de Noé, e nos alerta contra a desarmonia e destruição que causa nossa pegada ecológica, nosso estilo de vida consumista e degradante e, finalmente, e não menos importante, nos leva a olhar a Deus e a criação na sua beleza e ternura visível em todo ser vivente. Deus seja louvado!

 

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