A Igreja da América Latina e do Caribe tem um encontro marcado pela frente. Será no Santuário de Aparecida, aqui no Brasil, em maio de 2007.
Estarão presentes numerosos bispos, representando países de nosso continente que trazem em comum um traço característico muito especial: uma caminhada eclesial marcada pela pronta adesão à fé cristã, herdada da tradição católica européia e enriquecida com a religiosidade dos povos aqui existentes antes da chegada dos europeus. De tal modo que a fé cristã se tornou, ao mesmo tempo, expressão religiosa e identidade nacional dos países que se formaram na dinâmica decorrente do encontro entre povos e culturas de dois continentes.
Disso resultou a “Igreja da América Latina e do Caribe”, com traços característicos e identidade própria, que a distinguem no universo constituído pela Igreja Católica no mundo. Salvaguardar esta identidade, cultivar suas potencialidades, e perceber os desdobramentos que ela precisa assumir diante das profundas transformações hoje em curso, são tarefas que constituem o pano de fundo da motivação desta Quinta Conferência prevista para o ano que vem, mas que desde agora suscita um processo de intensa participação, como é característico de sua história.
A identidade própria da Igreja da América Latina e do Caribe foi intuída e explicitada na primeira dessas “Conferências Gerais do Episcopado Latino Americano”, realizada no Rio de Janeiro em 1955. Foi fundado, então, o “CELAM” – Conselho Episcopal Latino Americano – que a partir de lá serviu de órgão articulador de comunhão eclesial e de ação pastoral.
Com a realização do Concílio Ecumênico Vaticano Segundo, na década de sessenta, a identidade da Igreja da América Latina se fortaleceu. A consciência do valor de sua caminhada, e dos desafios especiais de sua realidade, levaram os bispos a decidirem por uma espécie de “concílio latino-americano”, para adaptar à nossa situação os ricos conteúdos dos documentos conciliares.
Esta reunião, amadurecida durante o Concílio, foi realizada pouco depois de sua conclusão, em 1968, na cidade de Medellín, na Colômbia. Seu claro propósito foi acolher as orientações do Concílio, inserindo-as de maneira prática e dinâmica nas circunstâncias próprias da realidade de nosso continente.
Por estas referências, a Conferência de Medellín permanece como paradigma de todas as outras. Seus resultados podem ser medidos por sua maior ou menor identificação com a caminhada da Igreja na América Latina e pela sintonia com sua realidade específica.
Foi a constatação da validade deste processo que presidiu a decisão de realizar agora mais uma Conferência especificamente latino americana, mesmo depois da proposta de “uma só Igreja e uma só América”, apresentada por João Paulo II no Sínodo Continental da América, em 1997.
Portanto, a nova Conferência de Aparecida não é um mini sínodo americano. Ela foi decidida em vista das necessidades específicas e da realidade própria da Igreja da América Latina.
Daí a importância de garantir que esta realidade, e suas interpelações, estejam presentes em Aparecida. Esta a principal incumbência de sua preparação que já está em curso. Dela vai depender o resultado eclesial e pastoral desta Conferência.