Iniciamos a Semana Santa com a celebração da entrada triunfante de Jesus na capital de seu país. A multidão O seguia com festa. Ele só fazia o bem a todos. Mesmo na crucificação, Ele pediu ao Pai por seus algozes, a humanidade toda. Com ramos jogados à sua passagem, as pessoas manifestavam quererem honrá-lo como verdadeiro rei. Seu reinado, porém, é diferente, a começar pelo meio de transporte por Ele usado, um jumentinho! Seu governo não se assemelha ao humano, muitas vezes cheio de corrupção, desmandos, malversação do dinheiro público, impostos para assalariados e isenção para os ricos, injustiças, atendimento precário à saúde, falta de segurança, agressão a menores, a mulheres, a negros, a índios e idosos, promessas não cumpridas, pagamento a empregados fantasmas que lhe deram votos, uso do nome de cristãos para interesses contrários aos religiosos, “fichas sujas”… “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro!”, diz o Rei (Mt 6, 24).

A Quaresma nos foi muito propícia para a exercitação na prática do serviço a Deus e no uso dos bens materiais e culturais para servirmos à causa daquele a quem seguimos, o Divino Mestre. Com Ele, nos treinamos para colocar a vida no amor em primeiro lugar. Tudo o mais não pode ser absolutizado. Deve ser usado para o serviço ao semelhante. O acúmulo de riquezas sem a hipoteca social faz enferrujar o caráter humano e diminuir sensivelmente seu valor. O próprio Filho de Deus não se apegou à sua riqueza divina. Abaixou-se à nossa pequeneza, tornando-se um nosso grande servidor. “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens” (Filipenses 2, 6-7).

Sujeitou-se a todos os nossos limites, menos ao pecado. Quis até sofrer tentações. Mostrou-nos como vencê-las. Somente quem tem Deus como a própria maior riqueza pode superar as tentações do acúmulo inútil do que é material, para não colocar nele a finalidade de vida. O desenvolvimento econômico é importante, mas deve ser usado para a promoção da vida e da justiça para todos. A própria natureza deve ser usada nessa perspectiva, sem o abuso de sua deterioração. Talvez precisemos, mais do que lançarmos ramos, de nos tornarmos os veículos portadores de Cristo para darmos esperança a quem vive sucumbido na vida, sem perceber seu sentido.

A evangelização torna-nos capazes de perceber o quanto a vida vale mais do que as coisas materiais. Saber usar do que é apenas instrumento de serviço à vida e à dignidade humana nos torna realmente membros conscientes e atuantes do reinado de Deus. Por isso, vale a pena fazer a Páscoa com Cristo para termos sua vida, que nos faz realmente dignos da filiação divina. Como fruto prático de nossa conversão na Quaresma, fazemos hoje a coleta da Campanha da Fraternidade para ajudarmos pessoas e comunidades de lugares mais carentes. Sejamos generosos!

Dom José Alberto Moura

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