Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

 

A palavra “rei” teve uma conotação privilegiada no Antigo Testamento. Era o poder centrado nas mãos de uma única pessoa e reconhecido pelas demais. Apesar do querer do povo judeu, a prática não foi tão saudável como se esperava. Como diz o ditado, “o poder quando sobe na cabeça”, perde o sentido do servir. Para o cristão, o único Rei é o ungido do Pai, Jesus, que serviu morrendo na cruz. 

O verdadeiro Rei é aquele que assume a missão de construir um Reino de paz, de justiça e amor. Dizemos que esse Rei é Cristo, mas, a missão se estende para a vida de seus seguidores, também ungidos pelo Batismo e confirmados no Sacramento da Crisma. Essa missão pesa sobre aqueles que governam uma Nação, um Estado ou um Município, porque são espaços onde se deve construir a paz. 

Antes de ser implantado o sistema de reinado, entre os hebreus, e o surgimento do primeiro rei, o Rei Saul, as decisões eram coletivas, porque o povo estava organizado pelo sistema tribal. Não havia um chefe absoluto, que ditava as regras para as comunidades. Mas, acontece que tudo mudou com a chegada de Saul, que agia de forma autoritária, mais como rei e menos como pastor de ovelhas. 

Lamentavelmente, presenciamos cenas desastrosas para o povo. Entre elas, está o massacre no Rio de Janeiro, numa cidade civilizada, culta, bela, mas lameada pelo sangue de tantas pessoas motivadas pelo tráfico. O que vem acontecendo mesmo é ausência de políticas públicas que atendam as necessidades da população. Onde não está o poder público, estão as organizações criminosas. 

Todo poder deveria ser divino, porque vem de Deus. Mas, a força política e os conchavos econômicos esvaziam a identidade dos que estão no poder e agem de forma arbitrária e interesseira. Desta forma, acabam prejudicando a vida das pessoas e da comunidade por eles administradas. Cada autoridade deveria ser uma embaixadora de Deus na preservação do bem comum e da harmonia entre todos. 

O pior diante das más administrações é o silêncio do povo e sua falta de reação. Isso acontecia na cultura dos faraós do Egito, até que apareceu Moisés com força libertadora e conseguiu que o povo se livrasse daquelas imposições arbitrárias. É importante olhar para a prática de Jesus, que não impunha sua onipotência e autoridade. É necessário buscar que tipo de autoridade devemos eleger! 

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