Retiro: oração, meditação e vivência fraterna

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

 

De 23 a 27 de agosto, os presbíteros (padres) da Arquidiocese de Natal, juntamente comigo, por graça e benevolência divinas, seu Arcebispo, estivemos em Retiro, na cidade de Aparecida, em São Paulo, junto ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.  O pregador foi o Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Foram dias de oração, meditação, reflexão e de experiência de encontro fraterno entre os que são chamados a pastorear as mais de 100 paróquias de nossa Igreja Arquidiocesana.

O pregador conduziu-nos a refletir sobre o nosso ministério presbiteral, reconhecendo as belas realidades presentes na nossa missão, como também ajudou-nos a reconhecer com gratidão o bem que muitos presbíteros realizam nas comunidades a eles confiadas. Sim, chamou-nos a atenção das fragilidades, das feridas, e como a intimidade com o Senhor, através da oração, da fidelidade ao chamado e à missão, como também a figura do bom samaritano, são os remédios que precisamos para curar-nos e para dar a todos a perseverança.

São muitos os desafios que se colocam diante do nosso pastoreio. Mas, nenhum desafio pode ser maior que a aceitação do amor de Deus por cada um. De fato, o padre é chamado a fazer experiência do amor de Deus em sua vida. Tendo como texto iluminador um versículo do profeta Sofonias, o pregador nos convidou a reconhecer a nossa vida nesse amor renovador de Deus: “O Senhor teu Deus está a teu lado como valente libertador! Por tua causa ele está contente e alegre, apaixonado de amor por ti, por tua causa está saltando de alegria” (Sf 3,17). O padre é chamado a ser homem da alegria. A alegria de ser convocado e ordenado pela Igreja para anunciar uma mensagem de alegria. Temas como fidelidade, alegria, caridade pastoral, celebração, proximidade e busca pela santificação foram apresentados para a meditação e a reflexão pessoal.

Uma reflexão chamou a atenção de todos: “o padre como bom samaritano”. O pregador fez-nos ver como o ministério presbiteral, longe das tentações do clericalismo, da autorreferencialidade e da prepotência, baseando-se na parábola do bom samaritano, é um sinal de esperança para toda a Igreja. Na verdade, é preciso ser como aquele homem que desceu do seu bem estar, de sua vida de caminhante, que seguia dono de si e de seu destino, que se depara com a necessidade do outro e não foge, não passa indiferente à dor do semelhante, mesmo que seja um inimigo ou alguém de quem não receberá nada em troca. Quantas vezes não somos esse homem samaritano, nas diversas situações de nossa vida, nos vários encontros com os irmãos e irmãs. Atitudes como compaixão, como empatia, ou o colocar-se no lugar outro, vivendo e testemunhando a promoção humana, que é parte integrante da evangelização, levam-nos a ser o bom samaritano que Jesus quer que sejamos.

Outro tema bastante elucidado pelo pregador foi a insistência na amizade presbiteral. Sermos testemunhas de fé e de caridade entre nós mesmos. Em primeiro lugar, é preciso ser o bom samaritano do irmão presbítero, daquele que está frágil, do que está ferido. E como é urgente reconhecermos que não somos “super-homens”, mas feitos de carne e osso, com suas fragilidades que precisam ser cuidadas. O padre é o homem do cuidado. Por isso, é tão importante contemplar na vida as várias dimensões da existência: humana, comunitária, intelectual, espiritual e pastoral-missionária. Não que devemos buscar padres perfeitos, pois só existe perfeição no céu, mas homens que buscam crescer na sua condição humana, com serenidade, verdade e, sobretudo, com coragem de ser para os outros, como foi Jesus. Porque o padre tem como exemplo o bom Pastor, o Filho eterno de Deus que se fez Homem, é possível seguir a proposta de seu chamado: anunciar a salvação que significa vida nova e digna para todos.

Diante de tudo isso, renovo minha gratidão a todos os presbíteros de nossa Arquidiocese para que permaneçam unidos e fortalecidos na fé e no seguimento de Jesus, revelação do amor de Deus por toda a humanidade.

Rezem por nós, para que os propósitos do Retiro sejam vividos na alegria que provém do Evangelho de Jesus Cristo, o Bom Pastor.

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