Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

 

Caros amigos, a liturgia da Palavra deste sábado, dia 05 de maio, nos leva a reflexão de duas realidades cotidianas e, portanto, de constante reflexão para a toda a Igreja, Povo amado de Deus a caminho da Páscoa definitiva.

Em primeiro lugar, evidencia-se a ação carismática de Deus, que guia a sua Igreja peregrina, como está expresso na providência de Deus que guiou são Paulo para entrar na Europa através da Macedônia.

E, em segundo lugar, a constante resistência do mundo à Boa Nova de Cristo, campo comum da boa semeadura do Evangelho, missão de toda Igreja chamada a ser sal e luz, segundo nos ensina Nosso Senhor no Evangelho.

Os relatos contidos nos Atos dos Apóstolos revelam que a propagação da fé nos primeiros séculos está intimamente ligada à escuta atenta às moções do Santo Espirito de Deus – Ouvimos, por exemplo, na primeira leitura, que Paulo e Timóteo mudaram por várias vezes o itinerário de sua missão, deixando-se guiar às cidades seguindo unicamente a vontade de Deus.

O Espírito Santo foi quem conduziu a Obra da Evangelização nos inícios da Igreja, e, ainda hoje, a conduz. “Ele age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por Ele, e põe na sua boca as palavras que sozinho não poderia encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma daqueles que escutam a fim de a tornar aberta e acolhedora para a Boa Nova e para o Reino anunciado” (Evangelii nuntiandi, 75).

Evangelizar, testemunhar o Reino de Deus, esta é a missão da Igreja. Esta é a nossa missão de batizados! Por isso, devemos abrir nossos corações ao horizonte do Espírito de Deus, sem ter medo do que nos pede e do lugar para onde nos leve.

O Espírito é a força que move a ação evangelizadora da Igreja. Como diz o Papa Francisco: “sem a presença e a ação incessante do Espírito Santo, a Igreja não poderia viver e não poderia realizar a missão que Jesus ressuscitado lhe confiou, de ir e fazer discípulos todas as nações”.

Neste Ano do Laicato, onde esta grande porção do Povo de Deus deve ser ainda mais privilegiada nas reflexões e ações pastorais da Igreja no Brasil. Pois, todos os dons e carismas, provém do mesmo Senhor e direcionam-se a unidade de coração e de fé de toda a Igreja, em sua exigente missão de evangelizar.

A nós pastores cabe-nos ser os sinais visíveis desta unidade, incentivando e discernindo os dons que Deus com liberalidade distribui entre os fiéis, defendendo a unidade da fé e da caridade. Sendo assim, é um contra serviço ao corpo místico de Cristo, que é a Igreja, todo tipo de discórdia e atitudes sectárias movidas por ideias dissonantes da unidade da fé católica.

Aos fiéis leigos e leigas da Igreja cabe a ousadia do Espírito, sempre em unidade com os pastores constituídos, iluminando e purificando todos os ambientes seculares com a boa luz e o bom sal do Evangelho, fazendo com que desde a base da Igreja brotem sementes de unidade na verdade e caridade sem nunca deixar-se guiar por juízos temerários ou parciais, que promovem a discórdia.

O Espírito Santo sempre “leva a Igreja ao conhecimento da verdade total (Cfr. Jo 16, 13). Unifica-a na comunhão e no ministério. Dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos. E adorna-a com seus frutos” (LG 4).

Assim, meus irmãos e irmãs, unamo-nos em caridade e justiça, em paz e verdade. Pois, o Espírito guiou Paulo e Timóteo dizendo onde deveriam ou não pregar, mas nunca mudaram o conteúdo do anúncio evangélico, sempre fiéis a pregação dos apóstolos do Cordeiro. “Deus não é um Deus de desordem, mas de paz” (1 Cor 14, 32-33).

O Evangelho nos fala da resistência do mundo aos discípulos de Cristo. Diz o Senhor: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia”. (Mt 15, 18-19)

Assumir o Evangelho é também assumir as suas exigências.

Sabemos que na missão própria dos batizados, muitas são as contradições enfrentadas todos os dias. Há ocasiões em que precisamos discordar e mostrar nossa desaprovação ante as ideias contrárias à fé e à dignidade da pessoa humana, que o mundo tenta infundir em nossos corações, em nossas famílias, em nosso ambiente de trabalho, entre outros.

“Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu senhor’. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”. (Jo 15, 20)

Por isso é importante que permaneçamos unidos, pastores e leigos, para cumprirmos na caridade a missão de anunciar o Evangelho com a palavra e com a vida! Que Nossa Senhora Aparecida Estrela da Nova Evangelização, em quem neste Santuário Nacional, buscamos a fonte inspiradora da fidelidade a Jesus Cristo e seu amor pela Igreja. Que Ela, como Mãe solícita, sempre orante, interceda por nós.

Deus abençoe a todos!

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