Nos contatos freqüentes, que a vida pastoral nos proporciona, é comum encontrarmos pessoas, que nos pedem orações, para conseguirem desejados favores do céu. São pedidos de graças, de saúde, de emprego, de mil outras necessidades que se nos antolham. É claro que Deus, por ser Pai cheio de bondade, nos ama e nos dá muito do que precisamos.

Mas, embora possamos pedir, deveríamos sempre viver em ação de graças, pelo que recebemos das mãos generosas de Deus. Dias atrás, o Santo Padre, em visita pastoral a uma cidade italiana, recordava exatamente isto. Demos graças ao bom Deus (lembrava Bento XVI) pelas coisas mais importantes da vida que nos foram doadas: “o sol e a sua luz, o ar que respiramos, a água, a beleza da terra, o amor, a amizade e a própria vida”. Viver pois em ação de graças.

Há outras coisas – é ainda o pensamento do Papa – que ninguém nos pode tirar: nem as ditaduras da terra nem outras forças destruidoras. É sermos amados por Deus que em Cristo ama a cada um de nós. Isto nos faz ricos, muito ricos de uma riqueza que não é terrena.

Mas, estes dons amorosos recebidos do Alto, vêm exigir de nós que saibamos também doar, tanto no plano espiritual, oferecendo amor e bondade, como no plano material, que o Evangelho sintetiza na expressão: “fração do pão”. Temos pois de doar, exatamente porque recebemos. Assim, nossa sociedade, nosso ambiente, nosso relacionamento, tudo isto fica mais humano e, por certo, mais perto de Deus.

A vida dos primeiros cristãos ilumina o que estamos tentando dizer. A gratidão pelo dom da fé e da vida cristã é que fez dos que, por primeiro, abraçaram a novidade do Evangelho uma única família. Eram todos unidos como irmãos. Repartiam os seus bens, viviam em comum a alegria de sua fé, a tal ponto que se podia dizer deles que eram uma única família no amor e na adesão a Deus.

Porque recebemos muito, temos de doar, diz o Santo Padre. E é isto que torna o cristão uma pessoa intimamente feliz. São João Crisóstomo, o mais famoso pregador da língua grega, falando a seu povo sobre esta largueza de doar, invectiva seu auditório: “Sacia primeiro o faminto e depois, do que sobrar, adorna a sua mesa”, isto é, a mesa de Cristo. E termina dizendo: “Enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito”.

Coração aberto para agradecer, mãos também abertas para doar a quem precisa.

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira

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