Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba

A palavra “conversão” própria da Quaresma e da Campanha da Fraternidade, toca frontalmente na vida e na sensibilidade dos indivíduos. Ela é um convite para transformação interior, que engloba a totalidade da pessoa humana. Mudança que vem de dentro, uma saída de si mesmo para ir ao encontro do outro. Isso não é fácil diante de uma realidade consumista e incapaz de olhar para dentro.

A fé em Deus atinge o ser da pessoa. Ela é uma convicção adquirida através da iluminação do Espírito Santo. Na verdade, Deus está dentro de nós, mas tem que ser percebido e revelado através de atos testemunhais concretos no relacionamento comunitário. Isto para dizer que a fé não é privacidade egoísta, hermética e insocial. Ela expressa o sentido real da Campanha da Fraternidade.

Na Sagrada Escritura aparece a figura de Abraão como o pai e o sustentáculo da fé, mas teve que sair de sua própria comodidade, de sua terra, da cidade de Ur na Caldeia, para construir um projeto querido por Javé. Abraão sentiu-se desafiado nas suas fraquezas, na infertilidade de sua vida, porque deveria ser pai de um grande povo, mesmo na incapacidade de gerar filhos. Mas Deus sempre provê.

Sair de si mesmo significa confiar no outro, em Deus, e lançar-se nos empenhos cotidianos da vida. Assim aconteceu com Abraão, porque ele superou o medo existencial e não deixou inviabilizado o que lhe foi pedido. Muitas experiências negativas acontecem na vida das pessoas, mas são fortalecidas e se apoiam em Deus, em quem confia e com quem faz uma verdadeira aliança.

Quem consegue sair de si mesmo é capaz de torna-se modelo de vida e de desapego para outros. É um esvaziamento que faz bem e toca o coração das pessoas. Assim fazia Jesus, também muitos dos apóstolos e inúmeras pessoas de nosso tempo. Já diz o ditado popular que “as palavras conseguem sensibilizar, mas são os reais exemplos de humildade que convencem”.

O tema das políticas públicas da Campanha da Fraternidade deste ano de 2019 leva a Igreja a interpretar a realidade vigente como carente de transfiguração. E Deus se revela justamente nos locais onde a história das pessoas encontra possibilidade de vida melhor. Significa que a fé não pode ficar fechada no coração, mas ter expressão visível no coração da sociedade e no bem comum.

 

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