As imagens das enchentes em Santa Catarina se fixaram em nossas retinas, e continuam interpelando nossa solidariedade. Ainda é cedo para balanços definitivos. Até porque as conseqüências desta inesperada calamidade ainda continuarão se desdobrando de diversas maneiras. E o momento ainda requer prioridade absoluta para o possível socorro que possa ser dado à população atingida de maneira tão dura por esta catástrofe.

Uma constatação conforta: a solidariedade de todos, tanto de perto como de longe, se agigantou diante do tamanho do desastre que atingiu a população catarinense. Claro que isto acarreta o desafio de canalizar o mais rápido possível o fruto desta solidariedade, para que chegue sobretudo aos que mais foram penalizados.

Permanece a dor maior, e irreparável, da perda de vidas humanas. Diante desta dor, sabemos bem, a atitude mais conveniente é o silêncio e o respeito, sobretudo na presença de quem chora os familiares e amigos falecidos.

Enquanto isto, perguntas vão surgindo, inundando nosso espírito com interrogações que a seu tempo precisarão ser respondidas de maneira adequada.

Uma delas é de ordem ecológica, e nos faz perguntar se esta é a medida das reações provocadas pelo desequilíbrio ambiental. Se assim é, o que será que nos aguarda daqui para a frente? E que providências indispensáveis precisaríamos tomar, se este fenômeno de todo inesperado é uma advertência da natureza tão maltratada por nossa intervenção humana.

Outra evidência que emerge desta calamidade é de ordem administrativa. E nos faz perguntar pelo tamanho da responsabilidade que pesa sobre todos os administradores públicos, tanto os incumbidos de planejar, como de executar ou fiscalizar os planejamentos urbanos.

A situação vivida em Santa Catarina merece ser colocada diante da consciência política de todos os cidadãos.  Para que assim se crie aos poucos uma visão muito mais comprometida com  a segurança coletiva de todos, baseada na implementação de uma adequada infra-estrutura, que esteja de acordo em primeiro lugar com as condições ambientais, e tenha a suficiente consistência estrutural.

Muitas vezes é mais fácil, e mais popular, enfeitar as cidades com maquiagens do embelezamento superficial, do que garantir os investimentos necessários para a infra-estrutura que procure maior segurança efetiva para toda a população.

Enquanto ainda estamos empenhados em fazer chegar aos nossos irmãos catarinenses a ajuda emergencial que está ao nosso alcance, e a energia de nossa solidariedade humana, vamos colhendo desta inesperada situação as lições que pudermos assimilar.

A experiência da Cáritas nos alerta para outra constatação, que convém fazer logo: enquanto ainda todos nos sentimos ligados à emergência, a solidariedade toma forma concreta, e expressão fácil. Enquanto a situação continua sendo divulgada, os gestos fluem espontâneos. O mais difícil vem depois, no momento da reconstrução. Aí se requer providências mais duráveis, motivação mais consistente, trabalho mais capacitado, e recursos mais abundantes. Será necessário conjugar bem as responsabilidades estatais, com a indispensável participação da cidadania, sobretudo para tornar eficaz o desejo que todos temos de ver o quanto antes o povo de Santa Catarina retomar sua vida, com o dinamismo e a laboriosidade que o caracterizam.

Que o tamanho da calamidade seja superado pela grandeza da solidariedade que despertou em todo o país.

Dom Luiz Demétrio Valentini

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