Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Se não fosse domingo, estaríamos celebrando no dia 13 de agosto, a memória litúrgica de Santa Dulce dos Pobres, o anjo bom da Bahia. Neste ano, o dia de Santa Dulce ocorre num domingo. Por isso, a liturgia dominical tem precedência. A festa de Santa Dulce poderá ser celebrada nas igrejas na quais ela é padroeira, mas com as leituras do domingo. Em algumas ocasiões, a memória litúrgica de Santa Dulce pode ser transferida para segunda-feira, dia 14.
Santa Dulce tinha um carinho especial pelos menos favorecidos da sociedade e era criticada por isso, inclusive por seus superiores. Ela foi “ameaçada” várias vezes de deixar a congregação ou ser enviada para longe. Mas, mesmo assim, ela bateu de frente e seguia adiante na missão de ajudar os mais pobres. Santa Dulce é uma santa genuinamente brasileira, conhecida como o anjo do bem da Bahia. A sua canonização gerou uma grande comoção nacional e mundial.
Santa Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em um tempo difícil para a humanidade, pois estava em meio a primeira guerra mundial. Filha de Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes. Santa Dulce nasceu em uma família bem humilde, por isso mesmo ela toma a atitude de ter um olhar diferente para os mais pobres, pois, além de ser um mandato de Jesus, ela viveu na pele a pobreza.
Desde pequena era bem religiosa e tinha uma intimidade com Jesus através da oração. Nutria no coração o desejo de se consagrar inteiramente a Deus, como religiosa. Durante os momentos de oração, ela pedia um sinal a Deus sobre a sua vocação. Ela pensava que o melhor modo de agradar a Deus era servindo aos mais pobres. Isso foi confirmado para ela em suas orações pessoais.
Santa Dulce se tornou religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Ela escolheu o nome de Dulce para homenagear a sua mãe. Pois, o nome de batismo de Santa Dulce era Maria Rita. Em muitas congregações religiosas, aqueles que se consagram escolhem um nome em sinal da consagração a Deus.
Determinada e com uma fé inabalável, dedicou os anos de sua vida religiosa aos mais pobres. Irmã Dulce saía pelas ruas de Salvador, muitas vezes arriscando a sua vida e em busca dos mais pobres e excluídos pela sociedade. Irmã Dulce batia na casa das pessoas no centro de Salvador pedindo doações para aqueles que não tinham dignidade e direitos reconhecidos e, muitas vezes, levava não e batidas de porta na cara. Às vezes, Santa Dulce era bem incompreendida.
Um fato inusitado na história de vida de Santa Dulce aconteceu no ano de 1949. Ela improvisou no galinheiro do convento um abrigo para acolher os doentes que eram resgatados por ela nas ruas de Salvador. Ela foi muito criticada por essa atitude, inclusive pela madre superiora do convento. Santa Dulce muitas vezes saía à noite para visitar os doentes e pobres e isso quase causou a sua expulsão do convento. A madre superiora chamou Irmã Dulce e o arcebispo primaz dizendo que, se ela não parasse com essas atitudes, teria que deixar a ordem religiosa.
A insistência de Irmã Dulce gerou resultados e suas preces foram atendidas por Deus. No ano de 1959, um terreno foi doado para a construção do Albergue Santo Antônio. Anos mais tarde, ao lado do albergue, foi fundado o Hospital Santo Antônio, coração das obras sociais de Irmã Dulce. Ela desejou sempre em seu coração esse hospital para poder atender os seus doentes, como ela dizia. Os pobres e doentes são os preferidos de Deus, por isso, Santa Dulce tinha tanto carinho por eles.
Anos mais tarde, por volta do ano de 1990, foi a irmã Dulce que ficou doente, sofrendo de problemas respiratórios. Deixou grandes lições para nós e para aqueles que admiravam o seu trabalho e que foram beneficiados por ele. Uma das grandes lições que Irmã Dulce deixou é sempre persistir naquilo que se quer e nunca desistir, pois Deus sempre escuta as nossas preces. Um outro legado que ela deixou é cuidar sempre dos mais pobres e servi-los com amor.
Santa Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, em sua casa, no Convento Santo Antônio. Ressalte-se que, depois de ter sido muito perseguida pelos arcebispos de São Salvador, ela teve uma acolhida muito grande por parte do arcebispo primaz de seu tempo, o saudoso Cardeal Lucas Moreira Neves, OP, que apoiou integralmente toda a obra de evangelização de Irmã Dulce e que tinha, junto com São João Paulo II, uma amizade pessoal pela religiosa baiana. A morte de Santa Dulce gerou uma grande comoção que tomou conta da cidade de São Salvador, do país e do mundo. Muitos dos beneficiados por ela foram ao seu velório e sepultamento e já a declaravam Santa, devido ao grande amor que tinha por eles.
Sua beatificação aconteceu bem depois de sua morte, em 22 de maio de 2011. A celebração reuniu mais de 70 mil fiéis para a coroação da primeira beata nascida na Bahia. Santa Dulce passou a ser conhecida como “Bem-aventurada Dulce dos Pobres”, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de sua celebração litúrgica.
No dia 13 de outubro de 2019, em missa presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, Irmã Dulce foi declarada Santa. Recebendo o título de “Santa Dulce dos Pobres”, tornando-se a primeira Santa Brasileira.
Celebremos com alegria a memória litúrgica de Santa Dulce dos Pobres, pedindo a Deus que, a exemplo de Santa Dulce, tenhamos carinho pelos mais pobres e fragilizados da nossa sociedade, e ainda confiemos sempre em Deus, pedindo que Ele atenda as nossas preces. Amém.