Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Itabuna (BA)
O Evangelho que hoje nos é apresentado (Mt 18,1-14) nos convida a contemplar a simplicidade e a grandeza que existem no coração das crianças. Jesus, ao ser questionado sobre quem é o maior no Reino dos Céus, coloca uma criança no centro e ensina que é preciso converter-se e tornar-se pequeno para entrar no Reino. Pequeno aqui não significa insignificante, mas humilde, dependente de Deus, aberto à graça e capaz de amar sem medidas.
Santa Dulce dos Pobres é, para nós, um exemplo luminoso dessa lição. Apesar de enfrentar desafios imensos, desde a precariedade dos recursos até a incompreensão de muitos, manteve a docilidade de quem confia inteiramente no Senhor. Como uma criança nas mãos do Pai, entregou sua vida ao cuidado dos mais pobres e abandonados, vendo em cada rosto sofrido o próprio Cristo. Ela não esperou condições ideais para amar; simplesmente começou, com o pouco que tinha, e Deus multiplicou.
Nos dias atuais, o chamado de Jesus ecoa com urgência. Vivemos em um mundo marcado pelo egoísmo, pela pressa e pela indiferença diante dos pequeninos — sejam eles crianças abandonadas, idosos esquecidos, enfermos sem cuidado ou famílias sem pão. A tentação de olhar apenas para as “noventa e nove” que estão seguras nos faz esquecer a única que se perdeu. Mas o Mestre nos lembra que o Pai não quer que nenhum se perca.
Tornar-se como criança é permitir-se amar sem reservas, perdoar sem guardar rancor e servir sem buscar recompensas. É também, como Santa Dulce, assumir que cada ato de cuidado ao próximo é acolher o próprio Cristo. Quando estendemos a mão aos que sofrem, estamos tocando no sagrado, estamos aproximando o Reino de Deus da realidade concreta de nossas cidades.
Que este Evangelho nos mova à conversão, para que possamos viver a fé de forma simples e profunda, cuidando dos pequeninos que o Senhor nos confia. Sejamos, como Santa Dulce, instrumentos da ternura de Deus. E lembremos: no Reino dos Céus, o maior é aquele que se faz pequeno.
