No Diretório Litúrgico que orienta as celebrações da Igreja Católica durante o ano consta que no dia 1º de setembro celebra-se o dia de Nossa Senhora de Belém como padroeira arquidiocesana e municipal, sendo festa em toda a Arquidiocese e solenidade na cidade de Belém. Em documentação dos arquivos da Arquidiocese Municipal consta o que o Diretório prescreve e que o bispo D. Macedo Costa, em fins do século XIX, devido a uma promessa feita, entregou também a Catedral a Santa Maria de Belém numa celebração solene e perpetuada em artísticos painéis na abóbada do templo. Sabemos, porém, que a titular da Catedral sempre esteve sob orago de Nossa Senhora da Graça.
A Padroeira da Arquidiocese e da cidade de Belém traz à tona a pessoa da mãe de Jesus, a Virgem Maria, enquanto aquela que esteve em Belém de Judá, cidade onde nasceu Jesus. Recorda todo o mistério da Encarnação, a visita dos pastores, dos magos e a experiência de não ter lugar para Ele na hospedaria. A pequena Belém de Judá tornou-se famosa em todo o mundo por ter sido o berço do Salvador, Jesus Cristo, iniciando-se ali a nova era da humanidade.
A região da Judéia depois de um tempo como vassalo do Império Romano, após o ano 70 passou a fazer parte do Império que ainda se expandia na época. O Imperador
Constantino, convertido ao cristianismo no ano 330, mandou edificar em Belém, sobre a Gruta da Natividade, uma Basílica, cujos belos mosaicos representando os antepassados de Jesus e os profetas que anunciaram o seu nascimento a celebrizaram como um dos principais monumentos artísticos para os cristãos. E é justamente nesse templo que havia uma imagem bizantina da Virgem Maria, que se tornou conhecida com o título de Santa Maria de Belém. A peregrinação aos lugares santos fez com que seu culto se espalhasse pelo mundo, chegando à Europa e também a Portugal através desses religiosos peregrinos que estiveram na Terra Santa.
Em Lisboa foi construída uma Capela dedicada a Santa Maria de Belém muito próxima ao Rio Tejo, quase à beira-mar, na praia do Rastelo, nas portas do Atlântico. Essa
pequena Igreja ou “ermida” que o Infante D. Henrique, fundador da Escola de Sagres e grande incentivador das navegações portuguesas, começou a ser construída em 1459, obtendo do Papa que lhe fosse dado estatuto de paróquia para nela ser prestada assistência espiritual aos navegantes que ali passavam.
A esta Igreja, integrada na Ordem Militar de Cristo, deu o Infante D. Henrique o título de Santa Maria de Belém, em homenagem ao local onde nasceu Jesus Cristo.
Dizia ele que, assim como a estrela de Belém guiou os magos até a manjedoura onde se achava o Menino Deus, assim também a Senhora de Belém ajudaria a encontrar novas terras e o caminho para as Índias.
Foi justamente aí que Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral ouviram missa e comungaram, com os seus homens, antes de se fazerem ao mar: o primeiro em 8 de julho de 1497; o segundo em 8 de março de 1500. Partiram para as suas históricas viagens, que os levariam à Índia e ao Brasil, respectivamente. Foi também aí que o Rei D.
Manuel de Portugal, logo depois de ter subido ao trono em 1495, decidiu erguer um grandioso templo confiado aos Monges da Ordem de São Jerônimo e que iniciaram a vida ali em 21 de abril de 1500.
A partir da primeira pedra do edifício, lançada em 6 de janeiro de 1501, construiu-se ali um belo Mosteiro, o chamado hoje Mosteiro dos Jerônimos, uma das obras primas da arquitetura manuelina. Dedicado a Santa Maria de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos reflete um particular fascínio pela Encarnação, Nascimento e Epifania do Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo. Ainda hoje funciona ali uma Paróquia dedicada a Santa Maria de Belém.
Como as expedições marítimas portuguesas eram precedidas de solene celebração para a magnífica protetora dos navegantes, podemos deduzir como essa devoção chegou ao Brasil. Ela foi trazida pelos primeiro povoadores europeus, que tendo muitos devotos em todo território brasileiro, acabou sendo invocada em Itatiba (SP) e também em Belém do Pará, que dedicaram a Ela suas paróquias.
No Natal de 1615, o capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco partiu de São Luís do Maranhão com três navios e 150 homens para ocupar o Amazonas. Em 16 de janeiro
de 1616, desembarcou na formosa Baía do Guajará, que para muitos recorda a foz do Rio Tejo, em Portugal, onde ergueu o Forte do Presépio, fundando a povoação que recebeu, mais tarde, o nome de Santa Maria de Belém do Grão-Pará. Frei Agostinho de Santa Maria, em seu livro publicado em 1722, afirma que o nome de Santa Maria de Belém teria sido dado à padroeira da cidade “em memória dos Santos
Inocentes que em Belém foram degolados”, referindo-se ao massacre que houve, quando velhos, mulheres e crianças foram mortos numa revolta indígena, aproveitando-se da desunião entre os conquistadores que estavam em conflito entre o capitão-mor e à tropa, devido à violência com que ele tratava seus oficiais, tendo sido demitido e levado para Portugal.
Com a Bula “Copiosus in Misericórdia”, o Papa Clemente XI criou, aos 4 de março de 1719, o Bispado do Pará, dando à nova Diocese o mesmo nome da cidade: Santa Maria de Belém. Com a Bula “Sempiternum Humani Generis” do Papa São Pio X, a Diocese foi elevada a Arquidiocese em 1º de maio de 1906, renovando sua consagração a Santa Maria de Belém como sua padroeira principal.
Na Basílica da Natividade em Belém de Judá havia uma imagem bizantina da Virgem Santíssima que se tornou conhecida como o título de Santa Maria de Belém. Na fachada da
atual Catedral de Belém do Pará, inspirada na arquitetura oficial da corte de Lisboa na época de D. João V, pode-se admirar uma enorme efígie da Virgem Maria com o Menino Jesus sentado em seu colo e abraçando sua mãe. Sobre o altar-mor, além da bonita imagem semelhante à da fachada, existe uma grande tela, executada por um pintor português, representando o presépio de Belém, recordando a Igreja que está em Lisboa no Mosteiro dos Jerônimos e também o nome dado ao Forte do qual se originou a “cidade das mangueiras”.
Entretanto, a tradicional escultura barroca da padroeira, que antigamente se encontrava no altar, necessita de restauração e a atual versão da imagem de Santa Maria de Belém foi esculpida para as comemorações dos 50 anos do Congresso Eucarístico Nacional, celebrado em Belém em 2003.
Viajando a procura do rio-mar, o capitão português, guiado pela estrela do Natal, chegou ao local predestinado a ser o berço do início da evangelização no extremo norte do Brasil, a cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, onde está situada a primeira paróquia e diocese desta região, porta de entrada da fabulosa Amazônia.
Citações dos textos e pesquisas consultados nas anotações da Catedral de Belém Dia 1º de setembro, às 19 horas, teremos a Missa Solene seguida pela procissão luminosa na Co-Catedral do Carmo, na Cidade Velha.