Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
O Concílio de Éfeso, em 431, define o Dogma da Maternidade Divina de Maria! Esse dogma atesta que o Verbo, existente antes de todos os séculos, portanto, “Deus de Deus, Luz verdadeira da Luz verdadeira, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”, assumiu a natureza humana no seio da Virgem Maria. Desse modo, por meio do mistério da Encarnação, “sem mistura, sem confusão, sem separação”, possui também a natureza humana unida à Pessoa do Verbo; e assim temos: uma só Pessoa em duas naturezas.
Todos os dogmas de Maria se resumem neste mistério: Imaculada Conceição, porque seria a Mãe de Deus; Virgindade perpétua (antes, durante e depois do parto) porque seria a Mãe de Deus; Assunta aos Céus, porque é a Mãe de Deus.
Saboreando ou “ruminando” cada dia um pouco do riquíssimo texto da Exortação Apostólica pós-Sinodal Verbum Domini sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, podemos encontrar nela algumas referências concretas ao mistério de Maria, como Mãe de Deus; a Toda Santa e o seu íntimo relacionamento com a Palavra que se fez carne e habitou entre nós:
“Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda Santo Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido concebe e gera em si mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos . Portanto, o que aconteceu em Maria pode voltar a acontecer em cada um de nós diariamente na escuta da Palavra e na celebração dos Sacramentos”. (n. 28)
“Encontramos esses passos (da lectio divina: lectio, oratio, meditatio, contemplatio e actio) sintetizados e resumidos, de forma sublime, na figura da Mãe de Deus. Modelo para todo o fiel de acolhimento dócil da Palavra divina, ela “guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (L c 2, 19; cf. 2, 51), e sabia encontrar o nexo profundo que une os acontecimentos, os atos e as realidades, aparentemente desconexos, no grande desígnio divino.” (n. 87)
“Merecem ser conhecidas, apreciadas e difundidas também algumas antigas orações do Oriente cristão que, através de uma referência à Theotokos, à Mãe de Deus, percorrem toda a história da salvação. Referimo-nos particularmente ao Akathistos e à Paraklesis. São hinos de louvor cantados em forma de litania, impregnados de fé eclesial e de alusões bíblicas, que ajudam os fiéis a meditar juntamente com Maria os mistérios de Cristo. De modo especial, o venerável hino à Mãe de Deus denominado Akathistos – quer dizer: cantado, permanecendo de pé –, representa uma das mais altas expressões de piedade mariana da tradição bizantina. Rezar com estas palavras dilata a alma e dispõe-na para a paz que vem do Alto, de Deus – a paz que é o próprio Cristo, nascido de Maria para a nossa salvação”. (n. 88).
Celebramos também o 44º Dia Mundial da Paz, cujo tema escolhido este ano pelo Santo Padre foi: Liberdade religiosa, caminho para a paz, que, na realidade, aponta para ao menos quatorze subtemas concatenados que deveriam ser aprofundados até mesmo pontualmente para uma mais profunda compreensão. São eles: direito sagrado à vida e uma vida espiritual; liberdade religiosa e respeito recíproco; a família, escola de liberdade e de paz; a liberdade religiosa como um patrimônio comum; a dimensão pública da religião; Liberdade religiosa, força de liberdade e de civilização: os perigos da sua instrumentalização; Uma questão de justiça e de civilização: o fundamentalismo e a hostilidade contra os crentes prejudicam a laicidade positiva dos Estados; Diálogo entre instituições civis e religiosas; Viver no amor e na verdade; Diálogo como busca em comum; Verdade moral na política e na diplomacia; Para além do ódio e do preconceito; Liberdade religiosa no mundo e Liberdade religiosa, caminho para a paz.
Essa temática vem de fato coroar a preocupação já expressa na Verbum Domini nn. 117 e 120. “A Igreja reconhece como parte essencial do anúncio da Palavra o encontro, o diálogo e a colaboração com todos os homens de boa vontade, particularmente com as pessoas pertencentes às diversas tradições religiosas da humanidade, evitando formas de sincretismo e de relativismo e seguindo as linhas indicadas pela Declaração do Concílio Vaticano II Nostra aetate e desenvolvidas pelo Magistério sucessivo dos Sumos Pontífices. O processo veloz de globalização, característico da nossa época, permite viver em contato mais estreito com pessoas de culturas e religiões diferentes. Trata-se de uma oportunidade providencial para manifestar como o autêntico sentido religioso pode promover entre os homens relações de fraternidade universal. É muito importante que as religiões possam favorecer nas nossas sociedades, frequentemente secularizadas, uma mentalidade que veja em Deus Onipotente o fundamento de todo o bem, a fonte inexaurível da vida moral, o sustentáculo de um profundo sentido de fraternidade universal”.
“Todavia, o diálogo não seria fecundo se não incluísse também um verdadeiro respeito por toda a pessoa para que possa aderir livremente à sua própria religião. Por isso, o Sínodo, ao mesmo tempo em que promove a colaboração entre os expoentes das diversas religiões, recorda igualmente “a necessidade de que seja efetivamente assegurada a todos os crentes a liberdade de professar, privada e publicamente a sua própria religião, e também a liberdade de consciência”; de fato “o respeito e o diálogo exigem a reciprocidade em todos os campos, sobretudo no que diz respeito às liberdades fundamentais e, de modo muito particular, à liberdade religiosa. Tal respeito e diálogo favorecem a paz e a harmonia entre os povos”.”
Que a Virgem Mãe de Deus, aquela que deu ao Mundo o Príncipe da Paz, interceda junto a Ele, para que se faça duradoura a paz no coração de todos os homens e mulheres, criados à imagem e semelhança de Deus, particularmente na nossa amada Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em nosso Estado e em nosso país. Que a Senhora da Penha, que do seu santuário iluminado no alto do penhasco, interceda pela nossa urbe e abençoe todo o povo de nossa cidade. Que a Senhora Aparecida e Senhora de Nazaré, abençoe todo o povo brasileiro, e que as nossas raízes cristãs sejam valorizadas no ano da graça de 2011. Feliz ano novo! E que todos os dias do novo ano sejam dias de graça, de santidade, de perdão e da misericórdia que somente Jesus Cristo nos oferece no seu seguimento e no seu discipulado.