O Santuário de São Francisco das Chagas, em Canindé (CE), está celebrando o novenário ao seu padroeiro até o dia 4 de outubro, com o tema central “As Chagas de Cristo presentes em São Francisco e na vida do povo.” Durante os 11 dias de festividades, são esperados cerca de 1 milhão de romeiros na cidade, que é um dos principais centros de devoção franciscana nas Américas, considerada como a “alma franciscana do Brasil”.
O novenário de São Francisco das Chagas de Canindé 2024 teve seu início na madrugada da última terça-feira, 24 de setembro, com a participação de milhares de fiéis, entre moradores locais e romeiros que chegaram principalmente a pé, vindos de várias localidades da zona rural e cidades vizinhas. O evento começou com o tradicional hasteamento das bandeiras e a primeira missa, celebrada às 4 horas da manhã no patamar da Basílica Santuário. Ao longo dos dias, serão celebradas cerca de 100 missas, confissões, batizados, Adoração ao Santíssimo Sacramento, procissões, via sacra e bênção dos animais.
Essa romaria destaca que o significado das Chagas de São Francisco vai além da história, sendo uma profunda meditação sobre a transformação espiritual e o chamado à conversão, que São Francisco experimentou em sua união mística com Cristo crucificado. As chagas que ele carregou no corpo representam o sofrimento redentor de Cristo, que agora se torna glorioso na ressurreição, sinal de esperança para os peregrinos deste mundo.
Nesta festa, frei Gilmar Nascimento da Silva, OFM, reitor do Santuário de Canindé, lembra nos enchemos de fé e renovamos nossa esperança no Ressuscitado, naquele mesmo que ao aparecer esplendoroso, vencedor da morte, quis trazer as marcas de sua Paixão, agora gloriosas e radiosas. A romaria é, portanto, um momento de renovação da fé e da confiança no Cristo Ressuscitado, que traz as marcas do amor e do sacrifício pela humanidade.
O tema das chagas de São Francisco é profundamente ressonante para os romeiros que visitam Canindé em busca de alívio espiritual e físico. A devoção ao estigmatizado do Monte Alverne reflete essa identificação entre o santo e os sofrimentos de seus devotos, criando laços de fé e espiritualidade que são alimentados pela compaixão e amor aos pobres.
O Santuário de São Francisco das Chagas está situado a 120 km de Fortaleza e é um dos mais importantes centros de peregrinação do Brasil, sendo conhecido internacionalmente. Embora Assis, na Itália, receba o maior número de devotos, o historiador Venâncio Willeke ressalta que Canindé supera em expressões de fé e confiança manifestadas nos atos simbólicos de devoção, como os ex-votos. Ele sugere que, em termos de devoção e religiosidade popular, Canindé pode ser considerado o primeiro Santuário franciscano do mundo.
A chegada à centenária Basílica de São Francisco das Chagas, em Canindé, é o ponto culminante da jornada espiritual dos romeiros. Considerada o coração dos devotos, sua imponência arquitetônica e beleza ilustrativa impressionam os visitantes e refletem a devoção a São Francisco. No altar-mor, encontra-se a imagem venerada do santo, onde os fiéis realizam seus rituais de fé.
Para muitos romeiros, esse momento é de grande emoção, vivido como se fosse o último. Ao chegarem diante da imagem milagrosa de São Francisco das Chagas, eles levantam os braços, choram, suplicam e agradecem pelas bênçãos alcançadas. A necessidade de eternizar esse encontro leva muitos a registrar o momento com fotografias, que guardam como uma lembrança sagrada.
Além disso, os devotos expressam sua fé de várias formas. Muitos tocam nas imagens, deixam esmolas nos cofres como sinal de gratidão, e quando não há espaço nos bancos, se acomodam no chão, às vezes até para dormir. Um dos gestos mais comoventes e tradicionais é entrar de joelhos pela porta principal da igreja até o altar, muitas vezes vestidos com a mortalha marrom, símbolo da humildade e da penitência, em honra ao santo que carrega as chagas de Cristo. Esses rituais refletem a intensidade da devoção popular e a profunda espiritualidade que permeia a relação dos romeiros com São Francisco das Chagas.
Thiago Ribeiro / Arquidiocese de Fortaleza
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