Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Salvador
“Por que vocês vieram a este santuário?” Minha pergunta inesperada deixou os peregrinos surpresos. Não me foi fácil explicar-lhes que eu estava apenas querendo conhecer as motivações que os haviam levado àquele lugar sagrado, e por uma razão muito simples: sempre me impressionaram as multidões que acorrem a santuários de fama internacional ou conhecidos apenas na própria região em que essas pessoas vivem.
O que leva, por exemplo, um peregrino a visitar o Santuário do Senhor Bom Jesus do Bonfim, na Colina Sagrada de Salvador? Ou o de Aparecida? Ou o Santuário de Bom Jesus da Lapa? Quais são as expectativas de quem visita o Santuário da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, onde está o túmulo da Bem-aventurada Dulce dos Pobres? Em qualquer Santuário que fôssemos fazer tais perguntas aos peregrinos, obteríamos respostas muito semelhantes: “Sinto-me bem aqui”; “Venho renovar minha fé”; “Agrada-me rezar neste lugar!”; “Estou pagando uma promessa” etc.
A história de cada peregrino é única. Seus sentimentos, contudo, são muito semelhantes aos dos peregrinos que, no tempo de Jesus, visitavam o Templo de Jerusalém. Ali, eles rezavam: “Quão amáveis as tuas tendas, ó Senhor do universo! A minha alma anseia e desfalece pelos átrios do Senhor. Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo. Pois até o pardal encontra uma casa e a andorinha, um ninho onde põe seus filhotes: os teus altares, Senhor do universo, meu rei e meu Deus! Felizes os que moram na tua casa: continuamente eles te louvam!” (Salmo 84/83,2-5).
Os santuários apresentam duas características principais: são lugares que atraem pessoas e, por isso, elas ali vão em resposta a um desejo irresistível de visitá-los. Em segundo lugar, são centros de irradiação, pois os peregrinos voltam para as suas casas com nova disposição e renovado desejo de serem melhores.
Eles transformam o ambiente dos santuários em uma festa perene. Sabem que estão ali por um breve tempo, mas o vivem com tal intensidade e em uma tão profunda comunhão com Deus e com os irmãos que, ao começar o caminho de volta, surpreendem-se fazendo uma pergunta a si próprios: “Quando será que poderei voltar aqui?” Ou fazem logo uma promessa: “No próximo ano, aqui estarei de novo!”
“A minha alma anseia e desfalece pelos átrios do Senhor”, dizia o Salmista. Também o peregrino de hoje sente arder seu coração pela oportunidade de ter um encontro especial com o Senhor. Por isso, se alguém lhe perguntar: “Por que você veio a este santuário?”, talvez tenha como resposta apenas uma reação marcada pela surpresa. Contudo, se prestar atenção aos olhos daquele peregrino, captará um pouco do mistério vivenciado por ele naquela experiência de fé.