Dom Amilton Manoel da Silva
Bispo diocesano de Guarapuava – PR
No dia 8 de dezembro de 2020, fomos surpreendidos, pelo Papa Francisco, com a carta Patris Corde, abrindo o ano de São José, em comemoração aos 150 anos da proclamação de São José, como Patrono universal da Igreja, título dado pelo Papa Pio IX. Esta notícia agradou a todos os católicos, que sempre admiraram São José, porém nunca imaginaram parar por um ano para rezar, refletir e buscar “imitar” as virtudes deste grande santo.
São José aparece nos evangelhos da infância de Jesus (em Mateus e Lucas) e foi citado no ministério público do Senhor (em Mateus, Lucas e João). Não vamos vê-lo escutando as pregações de Jesus, nem presenciando os seus milagres. Na Paixão, ele está ausente, não sofre com seu filho adotivo a crueldade dos tormentos, nem sustenta, ao pé da cruz, sua esposa dolorosa. Não o veremos na manhã da ressurreição anunciando aos discípulos a grande novidade, nem no cenáculo com a comunidade apostólica à espera do Espírito Santo… Onde estava ele? Certamente José já tinha morrido quando estes fatos aconteceram, o que o impossibilitou de mostrar, como Maria, que era discípulo fiel do próprio filho.
Como falar de São José, se não pronunciou uma única palavra nos evangelhos e pouco foi citado pelos mesmos? Os títulos que recebeu, e as suas diversas atitudes, são suficientes para esboçarmos sua forte e bela imagem e seu papel central na história da salvação: “pai” de Jesus (Lc 21,30; Jo 6,41), carpinteiro (Mt 13,55), justo (Mt 1,19), homem de fé, cuja fé, encontra-se com a de Maria. José foi feliz porque acreditou (Cf. Lc 1,45).
Proclamado Padroeiro da Igreja Católica, pelo Papa Pio IX (1870), Padroeiro dos operários, pelo Papa Pio XII (1955); Guardião do Redentor, pelo Papa João Paulo II, Padroeiro das famílias e da boa morte, pelo povo, patrono de tantas paróquias, capelas, instituições caritativas, etc. São José se tornou inspirador de todas as vocações e auxílio seguro nas diversas contrariedades da vida, vejamos:
Modelo de vida cristã: Entre tantas definições do “ser cristão”, tomemos esta do CIC 1694: “O cristão é aquele que, incorporado em Cristo pelo Batismo, morreu para o pecado e vive para Deus, seguindo a Cristo, conformando os seus pensamentos, palavras e ações com os seus sentimentos e seguindo os seus exemplos…” Olhemos para São José! Ele não recebeu o Batismo cristão (água e Espírito), mas no SIM silencioso, acolheu (cf. Mt 1,24) com fidelidade e radicalidade a fonte de água viva (cf. Jo 4,14), Aquele sobre o qual repousou plenamente o Espírito Santo (cf. Is 11,2; Lc 4,18). Logicamente, São José recebeu e viveu a graça batismal no desenrolar dos acontecimentos salvíficos de Cristo, onde fez parte. Dessa forma podemos afirmar: o que Jesus testemunhou em virtudes e dons, de alguma forma recebeu de São José, uma vez que, segundo os estudiosos, era costume judaico o pai educar o filho varão, depois dos seis anos de idade, transmitindo-lhe a religião, a Torá e a profissão e o evangelista Lucas confirma: “Jesus desceu com seus pais para Nazaré e lhes era submisso” (Lc 2,51).
Modelo de família: São José inspira os esposos na relação a dois, uma vez que o casal é para a Igreja a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento os faz participar. Guarda providente da Sagrada família, trabalhador incansável, presença marcante sempre junto a esposa e ao filho, assim vemos
São José. E o que dizer da renúncia dos seus sonhos, quando soube através do anjo que Maria havia feito por primeiro esta renúncia, em vista da vontade de Deus?
A paternidade de São José se exprimiu, concretamente, “em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido na sua casa” (Patris Corde). São José ensina aos pais a assumirem os filhos com responsabilidade, respeito e liberdade, o que significa amar sem reter, educar sem dominar, apontar caminhos sem exigir.
Modelo de vida religiosa consagrada: Pela profissão dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, a vida religiosa consagrada é um sinal que clarifica um estilo de vida correspondente a uma escolha vocacional. Diante das ofertas do mundo, o religioso (a) testemunha o absoluto de Deus. Um testemunho escatológico, que transcende as realidades temporais, para afirmar o próprio Deus. São José um homem casto “porque soube amar de maneira extremamente livre; nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida” (Patris Corde). Foi obediente a Deus, como Maria (faça-se em mim segundo a tua vontade), ensinou Jesus a obedecer e aprendeu dele a ser obediente (Lc 2,40). Carpinteiro, viveu a pobreza de fato, juntamente com sua família. Pobre de espírito, esvaziou-se de si mesmo, deixando Deus agir em sua vida. O Concilio Vaticano II apresentou a Vida Religiosa Consagrada, como num cartão postal atrativo: Experiência de Deus, vida comunitária e missão. Como não olhar para São José e vê-lo imerso nesse tripé inspirador para consagrados e consagradas viverem com fidelidade o essencial da sua consagração e atrair as vocações? Quantas páginas seriam necessárias para elencar as Congregações religiosas que tem São José como patrono e fonte dos seus carismas…
Modelo sacerdotal: São José não recebeu o ministério ordenado, mas foi íntimo do Sumo e Eterno Sacerdote do Pai e com Ele aprendeu a fazer da vida uma oferta cotidiana, pela salvação do mundo; uma mediação entre a frágil existência terrena e a eternidade insondável. O presbítero, é um servidor do mistério, pela graça ministerial, numa paternidade espiritual (padre). “São José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação” (PC 3). Por uma opção livre e consciente foi, por excelência, ministro da “economia da salvação”, vivendo mergulhado no mistério salvífico a que o próprio Deus “confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos e maiores: Jesus e Maria” (Redemptoris Custus). Pai na adoção, como o padre, que deve ser capaz de dar a vida pelos seus “filhos espirituais”, São José inspira os presbíteros no jeito de ser paterno, como enumera o Papa Francisco em Patris Corde: amoroso, terno, obediente, acolhedor, com coragem criativa e na sombra.
Modelo para os que abraçam a santidade: São José é inspirador das vocações, que tem como objetivo fazer a vontade de Deus e viver a santidade proposta por Jesus: “Sede santos como o vosso Pai do céu é santo” (Mt 5,48), pois foi ele um judeu fiel, justo e decidido. Assim, “a vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho a ser explicado, mas um caminho a ser acolhido. Somente a
partir desse acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo. O seu protagonismo é corajoso e forte (Patris Corde). Vocacionados à santidade, pela graça batismal, encontramos em São José, um grande aliado e um ilustre intercessor. No seu testemunho e pelas suas preces, o nosso “ser Igreja”, ganha força martirial na árdua missão de proclamar Jesus Cristo e o seu Reino.
Olhemos para São José, e o acompanhemos no casamento com Maria, adorando o Menino na manjedoura, na apresentação do Templo, na fuga para o Egito, no retorno à Nazaré, na busca e no encontro do Menino, no momento da sua morte… Ele que passou a vida protegendo o Menino e sua mãe, permanece protegendo a Igreja, inspirando as vocações e apontando realidades incomparáveis: cada pessoa é única e insubstituível no projeto amoroso/salvífico de Deus e o céu está a nosso favor.
Tomados pelas mãos de São José caminhemos firmes na fé, alegres na esperança e solícitos na caridade. Que este ano santo nos ajude a vencer todas as pandemias físicas, psíquicas e espirituais. São José Valei-nos!