Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM)
No domingo, dia 15 de maio, em uma celebração eucarística na Praça São Pedro, Vaticano, o Papa Francisco canonizou dez novos Santos para a Igreja. Entre eles estava São Justino Russolillo, Fundador da Congregação Religiosa Sociedade das Divinas Vocações – Vocacionistas, da qual sou membro desde fevereiro de 1986, quando professei os primeiros votos.
Partilho mais um artigo sobre a vida de São Justino Russolillo, desta vez destacando a sua opção pelos pobres.
Um dos biógrafos de São Justino, o querido Padre Antônio Polito, in memória, escreveu um livro em português sobre a vida de nosso Fundador e deu o título de “Padre Justino, o Percursor do Concílio Vaticano II”. Pelo que pude ler e conhecer da vida dele e de alguns de seus escritos, sem dúvida ele pode ser assim invocado por nós.
Mas sempre gostei de ver o nosso Fundador, também, como Precursor da Opção Evangélica pelos Pobres que o Concílio Vaticano II fez e que a Igreja na América Latina e no Caribe faz e que a CNBB faz. Esta minha forma de ver e compreender a vida e o ensinamento de São Justino, pode ser fundamentado em alguns pontos que começo aqui a discorrer.
- Sua história
São Justino Russolillo descobriu desde cedo o chamado de Deus para ser padre. De família católica sentia vontade de servir a Deus e a seu Reino como padre. Filho do pedreiro Luís Russolillo e da doméstica Josefina Simpatia, teve dificuldades de entrar no Seminário, porque naquela época, no início do século XX, a família pagava para os filhos entrarem no seminário e estudarem para serem padres.
A família de Justino não tinha estas condições financeiras. Buscaram ajuda em benfeitores, mas não receberam apoio. A mãe Josefina, no entanto, não desistia, muito menos o adolescente Justino. Sua mãe lhe disse certa vez diante destas dificuldades econômicas: “Não temas meu filho. Sua mãe te mandará ao seminário, mesmo que tenha de penhorar os olhos”.
Em uma rede de solidariedade entre familiares e paroquianos da Paróquia São Jorge em Pianura, o sonho de Justino de entrar no Seminário e poder ser padre começou a ser realizado. Este seu sonho começou a ser realizado em 20 de setembro de 1913 quando foi ordenado padre na Catedral de Pozzuoli. Esta experiência vivida por Justino para entrar no Seminário, foi a “sarça ardente” (cf. vocação de Moisés em Ex 3, 2) que Deus escolheu para chamar Justino para ser o Fundador de uma Congregação Religiosa, para trabalhar pelas vocações, especialmente com os jovens pobres, que como ele, que sentissem o chamado de Deus para serem padres e não tinham condições de pagar o Seminário. E assim foi sendo germinada em sua mente e em seu coração o Carisma da Sociedade das Divinas Vocações – Vocacionistas.
A experiência dele como jovem pobre, vendo quase ser frustrado a resposta ao chamado de Deus para ser padre porque sua família, pobre, não podia pagar o seminário fez com que Justino fosse percebendo que tinha de fazer opção pelos jovens pobres que, também, sentiam o chamado para ser padres, mas desistiam de ir para o Seminário, simplesmente porque era jovens de famílias pobres.
- O Carisma Vocacionista
“O Servo dos Santos tem sempre como sua obra central e principal o cultivo e o apostolado, a procura e o serviço das divinas vocações para o clero secular e regular” (Ascensão, 749). O Servo dos Santos era o nome que o então, Padre Justino, pensava em dar à Congregação Vocacionista, mas não foi aceito, na época, por Roma. Por isto ele mudou o nome inicial e pediu a aprovação canônica da Santa Sé com o nome de Sociedade das Divinas Vocações.
O Carisma da Sociedade das Divinas Vocações é o de promover a santificação universal, procurando e cultivando as vocações para a Igreja, especialmente para a Vida Religiosa e Sacerdotal, através de sua obra mais específica o Vocacionário, casa de acolhimento de jovens que desejam terminar de fazer o discernimento vocacional.
Por desejo do Fundador São Justino Russolillo, o Vocacionário deve ser gratuito, tanto no sentido financeiro quanto no sentido vocacional. No sentido financeiro porque nenhum jovem paga para morar no Vocacionário. No sentido Vocacional porque nenhum jovem entra no Vocacionário para ser Vocacionista, mas para terminar de descobrir e assumir a sua vocação, seja ela qual for.
Vejamos esta afirmação de nosso Santo Fundador, em um de seus livros que ele chamou de Ascensão, no nº 739, sobre o Carisma da Congregação: “O servo dos Santos (Vocacionista), em toda a sua ação na santa Igreja, está essencialmente a serviço espiritual dos sagrados pastores, dos diversos institutos religiosos e de todo o povo fiel, uma vez que estes são os santos do Senhor na Igreja militante”. Portanto, o Vocacionista existe para servir à Igreja, à todas as Vocações: os Ministros Ordenados (Pastores), os Consagrados e as Consagradas (Institutos Religiosos) e os Leigos e as Leigas (Povo fiel).
Servir a todos os jovens, mas especialmente os mais pobres, sua experiência de vida, tornou Justino decidido a fazer opção pelos jovens pobres. Por isto ele idealizou o Vocacionário para ser gratuito. Assim escreveu ele: “Com os seus Vocacionários, o Servo dos Santos, afastando-se de toda e qualquer concorrência com outras obras semelhantes, deve ajudar os filhos do povo, desprovidos de meios financeiros, e aqueles que ainda não foram bem orientados para um determinado instituto religioso, até que não tenham feito a sua opção” (Ascensão nº 751). Aparece aqui a gratuidade financeira: “ajudar os filhos do povo, desprovidos de meios financeiros” e a gratuidade vocacional: ajudar “aqueles que ainda não foram bem orientados para um determinado instituto religioso, até que não tenham feito a sua opção”.
Como exemplo desta gratuidade vocacional e financeira dos Vocacionários Vocacionistas, quero indicar a experiência do Vocacionário no Brasil, que desde seu início até hoje, aproximadamente, passaram por ele mais de 600 jovens. Somente em torno de 35 tornaram-se Vocacionistas. Muitos saíram do Vocacionário e assumiram a Vocação laical, constituíram família, abraçaram uma profissão e atuam como Leigos Cristãos na Igreja e na Sociedade, alguns assumiram ser sacerdotes diocesanos e outros entraram em diferentes Congregações Religiosas. Foram acolhidos gratuitamente e ajudados a terminar de fazer o discernimento vocacional.
- Seus ensinamentos
Mas a opção pelos pobres em Padre Justino não aparece apenas para os jovens que entrassem no Vocacionário. Ele estendeu esta opção para com todos os pobres. Vejamos esta sua orientação: O Vocacionista “deve cultivar e organizar a caridade dos fiéis, de modo que, na mesma paróquia, o indigente e o operário recebam trabalho e salário, o órfão e o inválido encontrem casa e família, o enfermo e o encarcerado tenham assistência e conforto da prática e do apostolado comum das obras de misericórdia corporais” (Ascensão, 764). Cultivar e organizar a caridade para socorrer as necessidades dos pobres. Por isto ele recomendava que a residência dos Vocacionistas nas paróquias devia ser entre outras coisas, “escritório do povo” (cf. Ascensão, 767).
Sabendo que os Religiosos Vocacionistas fariam voto de pobreza, São Justino nos exortou a não usar esta nossa opção de vida, como desculpa para não amar e servir aos pobres. Vejamos o que ele escreveu: “A nossa pobreza não deve ser considerada como impedimento para a prática das obras de misericórdia mesmo, e em primeiro lugar, aquelas corporais. Por exemplo, ao lado de cada nosso refeitório exista também aquele dos pobres que se dirigissem à caridade dos religiosos. Além disso, a característica da nossa caridade deve ser a honra externa, sinal da estima interna, com a qual envolvemos o pobre e qualquer outra pessoa necessitada de ajuda” (Ascensão, 829).
Observemos esta opção clara e irrevogável dele pelos pobres, que ele transmite a todos que viessem a entrar na família religiosa que ele estava fundando. “A nossa pobreza não deve ser considerada impedimento para a prática das obras de misericórdia”. Disse tudo! Isto nos faz lembrar do que diz João em sua primeira carta: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade” (3, 18).
Para não se dar desculpas e não fazermos opção pelos pobres e ajudá-los em suas necessidades, São Justino deixou esta orientação para os Vocacionistas: “Não devemos desprezar qualquer apelo de caridade que chegar até nós, referente a boas iniciativas, especialmente se proveniente de religiosos ou de sacerdotes. Se não se pode ajudar com muita coisa, se responda ao apelo com o pouco que temos, mas sempre com alguma coisa. Além disso, e muito mais, inscreva-se este apelo no livro de intenções das orações da comunidade e, também, quando se puder, recomendando-o à caridade de possíveis benfeitores” (Ascensão, 830).
Dicas importantes de motivação para servir e amar os pobres: a) “Não desprezar qualquer apelo de caridade que chegar até nós”. Todo grito de ajuda precisa ser escutado pelos Vocacionistas, tal como fez Deus com o grito vindo de seu povo escravo no Egito: “Ouvi o grito de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos” (Ex 3, 7); b) “Se não se pode ajudar com muita coisa, se responda ao apelo com o pouco que temos, mas sempre com alguma coisa”. Ou seja, ninguém devia sair depois de falar conosco de suas necessidades de mãos vazias, sempre com alguma coisa, mesmo que fosse o mínimo possível. O convite para superar a indiferença diante do sofrimento do irmão. São Justino por certo se lembrava do que diz a Palavra de Deus: “Se alguém possui riquezas neste mundo e vê o seu irmão passar necessidade, mas diante dele fecha o seu coração, como pode o amor de Deus permanecer nele?” (1Jo 3, 17); c) “Recomendando-o à caridade de possíveis benfeitores”. É o convite para despertar solidariedade na comunidade de fé para que o pobre fosse ajudado. O Vocacionista ajuda com o que pode e articula a caridade com outras pessoas. É o que fazem hoje na Igreja a Caritas e outras Pastorais Sociais.
- Fundamento em Jesus da opção pelos pobres
Jesus afirma ser Pobre: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8,20). Ele aponta o caminho da pobreza para quem quiser segui-lo: “Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me!” (Mt 19,21). Nesta direção da vivência da pobreza ele nos desafia e provoca dizendo: “Onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6,21) e “Ninguém pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24).
Jesus além de se ter declarado pobre e exigir a pobreza de se nós seus seguidores e suas seguidoras, ele afirma de modo incisivo que veio para os pobres: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres” (Lc 4,18) e “Aos pobres é anunciada a Boa Notícia” (Mt 11, 5).
Mas ele não estava ainda satisfeito e afirmou que se identificava com os pobres: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizerem isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25,40) e “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram” (Mt 25,45).
Percebemos assim que a opção pelos pobres feita por São Justino, tem sua raiz na opção pelos pobres feita por Jesus com sua vida, suas palavras e suas ações.
Magistério da Igreja
O Magistério da Igreja é rico de ensinamentos desta necessidade de se fazer opção pelos pobres, desde os primeiros séculos até nossos dias. Mas não temos condições e nem é a intenção de fazer este resgate em nossa história eclesial. Vou me valer aqui de alguns ensinamentos do Concílio Vaticano II, de alguns Papas e de orientações dos bispos da América Latina e do Caribe.
a) Concílio Vaticano II
Vale a pena ler o que nos ensina o Documento Concílio Vaticano II, Apostolicam Actuositatem, nº 8: “A fim de que este exercício da caridade esteja para além de toda a suspeita e como tal apareça, veja-se no próximo a imagem de Deus, segundo a qual foi criado, e a Cristo Senhor a quem verdadeiramente se oferece o que se dá ao necessitado, e respeite-se com a maior delicadeza, a liberdade e a dignidade da pessoa que recebe o auxílio; não se manche a pureza de intenção por qualquer proveito de utilidade própria ou pelo desejo de domínio; primeiro satisfaçam-se as exigências da justiça e não se ofereça como dádivas de caridade o que já se deve por título de justiça; suprimam-se não só os efeitos, mas as causas dos males; orientem-se os auxílios de tal modo que aqueles que os recebem, pouco a pouco se libertem da dependência externa e se bastem a si próprios”.
A opção pelos pobres, a partir do Concílio Vaticano II, não poderia ser apenas de caridade assistencial, ou seja, ajudar os pobres dando-lhes os bens materiais que precisavam para sobreviver. A caridade cristã deveria ser praticada em três níveis distintos e complementares: o nível da caridade assistencial (dar o que a pessoa precisa de imediato para sobreviver), o nível da caridade promocional (oferecer condições para a pessoa obter por si mesma o que precisa para sobreviver) e o nível da caridade libertadora (atuar na sociedade para romper as causas da miséria, da exclusão).
b) São João Paulo II
Na Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a Vida Consagrada, nº 82, ele assim se expressa sobre nossa opção pelos pobres: “A Igreja, assumindo como própria a missão do Senhor, anuncia o Evangelho a todo o homem e mulher. Mas, com uma atenção especial, uma verdadeira «opção preferencial», ela dirige-se a quantos se encontram em situação de maior debilidade e, consequentemente, de maior necessidade. ‘Pobres’, nas várias acepções da pobreza, são os oprimidos, os marginalizados, os idosos, os doentes, as crianças, todos aqueles que são considerados e tratados como ‘últimos’ na sociedade” e mais: “A opção pelos pobres inscreve-se na própria dinâmica do amor, vivido segundo Jesus Cristo. Assim estão obrigados a ela todos os seus discípulos”
Dirigindo-se mais diretamente aos Consagrados e às Consagradas, São João Paulo II afirma de forma direta: “Aqueles que querem seguir o Senhor mais de perto, imitando as suas atitudes, não podem deixar de se sentirem implicados de modo absolutamente particular em tal opção. A sinceridade da sua resposta ao amor de Cristo leva-os a viver como pobres e a abraçar a causa dos pobres” e complementa: “Apoiadas pela vivência deste testemunho, as pessoas consagradas poderão, nos modos adequados à sua opção de vida e permanecendo livres relativamente às ideologias políticas, denunciar as injustiças que são perpetradas contra tantos filhos e filhas de Deus, e empenhar-se na promoção da justiça no ambiente social onde atuam”.
c) Papa Francisco
O Papa Francisco dedica o Capítulo IV da Exortação Apostólica Evangelii Guadium à opção pelos pobres. Dentre de seus ensinamentos neste capítulo da exortação vamos ressaltar: a) “Deriva da nossa fé em Cristo, que se fez pobre e sempre se aproximou dos pobres e marginalizados, a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade” (n. 186); b) “No coração de Deus ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo ‘se fez pobre’ – 2Cor 8, 9” (n. 197); c) “Somos chamados a descobrir Cristo nos pobres: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas, também, a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” (n. 198); d) “Ninguém deveria dizer que se mantém longe dos pobres, porque as suas opções de vida implicam prestar mais atenção a outras incumbências… Ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social” (n. 201).
Nesta perspectiva do ensinamento do Papa Francisco nos motivando a assumir e viver a opção pelos pobres, poderemos lembrar que ele instituiu no encerramento do Ano da Misericórdia em 2016, o Dia Mundial dos Pobres, o “Dia que faltava”, segundo ele na lista dos Dias especiais que nossa Igreja celebra durante o ano. Cujos títulos de suas mensagens nestes primeiros cinco anos de existência falam por si e indicam esta clara opção de nosso atual Papa pelos pobres e pelo cuidado e libertação dos pobres: 2017: “Não amemos com palavras, mas com obras (1Jo 3, 18); 2018: “Este pobre clama e o Senhor lhe escuta” (Sl 34, 7); 2019: “A esperança dos pobres jamais se frustrará” (Sl 9, 19); 2020: “Estende a tua mão ao pobre” (Eclo 7, 36); 2021: “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7).
d) Bispos da América Latina e do Caribe
Em Puebla no México, 1979, os Bispos disseram que “o serviço aos pobres é medida privilegiada, embora não exclusiva, de nosso seguimento de Cristo” (nº 1145). E mais: “Os pobres merecem uma atenção preferencial, seja qual for a situação moral ou pessoal em que se encontrem” (nº 1142).
Em Aparecida no Brasil, 2007, os bispos faz um alerta importante: “Nossa opção pelos pobres corre o risco de ficar em plano teórico ou meramente emotivo, sem verdadeira incidência em nossos comportamentos e em nossas decisões” (nº 397) e propõem que devemos dedicar “tempo aos pobres, prestar a eles amável atenção, escutá-los com interesse, acompanhá-los nos momentos difíceis, escolhê-los para compartilhar horas, semanas ou anos de nossa vida, e procurando, a partir deles, a transformação de sua situação” (nº 397).
- Um bispo Vocacionista na Amazônia brasileira
Desde 30 de julho de 2017 que estou buscando servir à parcela do Povo de Deus que está na Prelazia de Itacoatiara, Amazonas. Nestes anos procurei ser bispo sempre levando em conta minha consagração religiosa Vocacionista, buscando inspirar-me, também, nos meus poucos, talvez, mas suficiente conhecimento dos ensinamentos de São Justino Russolillo.
Seu quadro está ao meu lado na sala de atendimento do povo na Cúria. Ele me inspira a me tornar servo, buscando viver o meu lema episcopal, “estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22, 27b). Ele me faz lembrar sempre que devo promover a santificação de todas as pessoas, ajudando-as a viverem sua fé, seu batismo, sua vocação e sua missão. Ele me lembra sempre de amar e servir sempre sem jamais dizer, basta e a amar a servir especialmente aos mais pobres, que para nós na Amazônia são os povos indígenas, os ribeirinhos (quem vive às margens dos rios, lagos e igarapés), os pequenos agricultores, os negros, os moradores nas periferias geográficas e existenciais das nossas vilas e cidades.
Como filho espiritual de São Justino que fez uma clara opção pelos pobres, não posso ser bispo de outro jeito. Como pede o Papa Francisco na Amazônia temos que ouvir necessariamente o grito dos pobres e o grito da natureza (cf. Laudato Si’, 49). Diante de tantas ameaças que a Amazônia vem sofrendo nos últimos anos, com a derrubada das florestas, com a contaminação das águas, com as queimadas, com as mortes de indígenas, negros e pequenos agricultores, que o Papa Francisco chama de injustiça e crime (cf. Querida Amazônia, 14), não posso ficar indiferente, não posso deixar que anestesiem minha consciência (cf. Querida Amazônia, 15), não posso me calar, porque se me calar as pedras falarão (cf. Lc 19, 40), mas as pedras não foram criadas para falarem. Somos nós humanos que recebemos de Deus o dom de falar. Portanto, não podemos nos calar! O caminho é a indignação, é a solidariedade, é estar do lado dos pequenos e pobres, para que possam ter vida e vida em abundância como ensinou o Mestre Jesus (cf. Jo, 10, 10).
- Conclusão
Como podemos ver, a vida, o Carisma e os ensinamentos de São Justino Russolillo são de fato, um convite à Igreja, antes do Concílio Vaticano II e, a nós nos dias atuais e sempre, a retomar e a viver o caminho da opção preferencial evangélica pelos pobres, para se permanecer fiel à vida, missão e ensinamento de Jesus, que nos convidou e a aprender dele (cf. Mt 11, 29) e a fazer como Ele fez (cf. Jo 13, 15). Também, para sermos fiéis à Doutrina Social da Igreja de todos os tempos, mas especialmente de Papa Leão XIII até Papa Francisco e sermos fiéis às orientações dos bispos da América Latina e Caribe desde Medellin (1968) até Aparecida (2007).
