Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
“Ó Deus, que hoje nos concedei a alegria de festejar São Pedro e São Paulo, concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes Apóstolos que nos deram as primícias da fé”, assim reza a oração da Coleta da liturgia da Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. São celebrados juntos, não por que sua vida, o martírio, a personalidade, a missão fosse igual, mas representam a diversidade na unidade. Eles concretizam a catolicidade da Igreja. Representam fundamentos convergentes na evangelização e na edificação da Igreja. Os textos bíblicos da liturgia (Atos 12,1-11; Salmo 33(34); 2 Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19) acentuam alguns fundamentos comuns a Pedro e Paulo e que compõem a identidade do verdadeiro apóstolo de Cristo e da Igreja.
Em primeiro lugar Pedro e Paulo, como todos os apóstolos, são chamados por Cristo. Várias vezes Jesus Cristo chama Pedro e o confirma na missão: foi chamado enquanto pescava; quando professa a fé afirmando que “Cristo é o Messias, o Filho de Deus vivo” Jesus lhe diz: “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”; quando Pedro declara que ama Jesus Cristo ressuscitado recebendo a missão de “apascentar as minhas ovelhas”. Dos chamados de São Paulo recordamos o encontro com Cristo quando está indo a Damasco para perseguir os cristãos (At 9); quando Barnabé parte para Tarso à procura de Paulo e o chama para ir com ele a Antioquia (At 11,25); o próprio Paulo confessa que foi “chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus” (1Cor 1,1). O chamado de ambos parte diretamente da vontade de Deus. O chamado e a missão são por excelência graça, porque é participação na mesma missão de Cristo.
A segunda característica que une Pedro e Paulo é a perseguição e os sofrimentos decorrentes da missão. Herodes mandou prender Pedro, depois de ter morto Tiago à espada. Pedro, na prisão, é “guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um”, “preso com duas correntes”. Na 2ª Carta aos Coríntios 11,23-25 Paulo relata os sofrimentos do ministério. “Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Cinco vezes, recebi dos judeus quarenta açoites menos um. Três vezes, fui batido com varas. Uma vez, fui apedrejado. Três vezes naufraguei. Passei uma noite e um dia no alto-mar”. Ao final da missão Pedro é crucificado e Paulo decapitado em Roma por causa da fidelidade ao chamado e cumprimento da missão apostólica. Viveram o ministério nas tribulações movidos por uma fé inquebrantável. Fé que nasceu do chamado recebido e do amor misericordioso de Deus que experimentaram na vida.
A terceira marca que orienta a liturgia da Solenidade de São Pedro e São Paulo é a realidade da Igreja. O livro de Atos registra que “enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele”. Pedro e Paulo só podem ser compreendidos na Igreja. Os dois nos fazem olhar para a Igreja. Jesus livremente decide e diz: “eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”, em outra passagem entrega as chaves para ligar e desligar. Em Pedro a Igreja fica visível, histórica. Ela aparece na história envolta em tempestades, perseguições. Na historicidade da Igreja também fica visível a humanidade e os pecados. O próprio Pedro é retrato disso, pois negou o Jesus Cristo. Paulo concordava com as perseguições.
Hoje é dia de pensar na Igreja que fica bem visível na pessoa do Papa Francisco. Cada pessoa que o procura, seja lideranças de governo, religiosos, crentes ou não crentes esperam algo do Papa. Talvez até ações que não lhe competem. Diante desta nobre missão do Papa, não pode faltar da comunidade a atitude dos primeiros cristãos. “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele! Rezemos pelo Papa e com ele.