São Sebastião, nosso padroeiro

A Cidade Maravilhosa e a nossa Arquidiocese celebram seu padroeiro São Sebastião. É uma ocasião especial para fitar os olhos no exemplo do soldado do século III a fim de que sua vida inspire atitudes, gestos e palavras hoje. É também o momento de olharmos a nossa história e, com coragem renovada, darmos passos corajosos na construção do futuro segundo o Plano de Deus. São dois aspectos que nos iluminam nestes dias de festa e reflexão.

A santidade tem qualquer coisa de intemporal, de modo que um santo é sempre uma pessoa cujo estilo de vida ultrapassa os limites do espaço e do tempo, e, como uma lâmpada colocada em cima do alqueire, ilumina a todos. Este foi um dos nossos temas durante a novena: o Evangelho é Palavra que perdura para sempre, mesmo que mudem as circunstâncias e as realidades ao redor da pessoa humana, a essência de sua vida, segundo o Evangelho, permanece para sempre.

A vida de São Sebastião, não obstante os muitos séculos que dela nos separam, pode iluminar-nos aqui e agora no seguimento de Jesus, suscitando em cada um de nós, em nossas famílias, comunidades e paróquias um novo vigor e um novo impulso para levar adiante a obra que Cristo quer realizar através de sua Igreja – mostrar à humanidade o caminho da salvação, a verdade que liberta e a vida que renova. Ele não desanimou nem com as pressões e nem com as torturas e flechas que recebeu; continuou firme em sua caminhada cristã até o fim. Essa firmeza modelou a cultura carioca desde os albores desta “cidade de São Sebastião”, “fundada na região do Rio de Janeiro” por Estácio de Sá a 1º de março de 1565. Não são as dificuldades, pedras no caminho, problemas que nos abatem, mas, como nosso padroeiro, levantemo-nos e continuemos a nossa luta com coragem e ânimos renovados.

São Sebastião viveu intensamente as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Ter fé é entregar-se totalmente a Deus e acolher o que Ele nos fala pela boca de seu Filho. A esperança lança a nossa vida nas promessas verazes de Deus, cujo cumprimento aguardamos com vigilância e com aquela confiança que não decepciona. Pela caridade amamos a Deus sobre todas as coisas e o nosso próximo como a nós mesmos. É, sem dúvida, a vivência das virtudes teologais o fundamento da santidade que veneramos em São Sebastião. Foi porque as viveu intensamente que nosso padroeiro teve a coragem de enfrentar adversidades e mesmo o martírio para não renegar o Salvador da humanidade, que disse: “Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10,32).  Santo Ambrósio testemunha em seus escritos: “no lugar aonde chegara como hóspede, encontrou a morada da eterna imortalidade”.

Hoje necessitamos aprender e reaprender continuamente a encaminhar nossa vida para Deus. A missão principal da Igreja é a de encaminhar os homens para Deus, para o Deus que assumiu um rosto humano em Jesus. E sabemos que, às vezes, não é fácil realizar esta tarefa primordial. Forças obscuras e contrárias ao Reino de Deus operam no mundo e é preciso vencê-las pelas mesmas virtudes que deram coragem a São Sebastião, que, como Cristo, derramou o seu sangue. Diante de um mundo violento, secularizado, consumista, individualista, hedonista e materialista, o cristão é chamado a viver e testemunhar sua fé com clareza e sem medo das adversidades, certo de que Deus o acompanha e sustenta. Viver com radicalidade a nossa identidade e, por isso mesmo, dialogar com a grande cidade, sua cultura, seus cultos e religiões, sua realidade social encarnando hoje o Evangelho.

Olhar para nossos irmãos de fé que nos legaram um grande exemplo de vida cristã, como São Sebastião, só pode nos fortalecer e firmar em nós as virtudes indispensáveis para o cumprimento dos nossos compromissos batismais. Que a caridade que abrasava São Sebastião em seu amor a Deus e aos homens arda também em nossos corações e conduza-nos a viver como verdadeiros e comprometidos discípulos e animados missionários de Cristo Jesus!

Não menos importante, além do exemplo que nos motiva, é a intercessão de São Sebastião, com a qual sempre queremos contar. A partida dos servos de Deus deste mundo não desfaz os seus laços com os que aqui ainda caminham; ao contrário, os fortalece. Ao entrarem em plena comunhão com Deus no céu, os santos passam a ter uma comunhão ainda mais profunda com a obra da criação e com os homens em particular. Assim, a nossa ligação com São Sebastião tem como fundamento a “comunhão dos santos”, que, em Deus, une todos os membros de Cristo entre si, os da terra, os que se purificam no purgatório e os do céu. E a oração que dirigimos ao nosso intercessor São Sebastião tem Deus como última meta, de quem nos vem graça sobre graça. Foi nessa intenção que coletamos as milhares de intenções e pedidos que, na visita ao Santuário do Cristo Redentor, depositamos aos seus pés. É Cristo que nos conduz ao Pai e que é a única ponte que nos conduz à vida Trinitária. Que nosso bom padroeiro seja um sinal e interceda continuamente pela Igreja e pela Cidade Maravilhosa, que, nestes tempos, tanto precisa da paz que vem do alto.

Para a novena preparatória tivemos a oportunidade de ter conosco uma réplica exclusiva da imagem histórica de São Sebastião trazida pelo fundador do Rio de Janeiro há 445 anos. É um testemunho da caminhada religiosa, cultural e social desta cidade. Durante esta novena essa imagem do santo padroeiro percorreu vários pontos da cidade como sinal de Deus entre o povo do Rio de Janeiro, convidando todos à oração, à união, ao amor e à paz. Esteve em todos os tipos de ambientes e em todas as realidades desta metrópole. O povo, que tem um carinho especial com o seu Padroeiro, foi chamado a tê-lo ainda mais como exemplo que nos conduz a Cristo. Que do céu venham abundantes graças e favores espirituais e temporais para a cidade e para seu povo amado. Cristo, a quem São Sebastião, invencível atleta da fé, entregou sua vida, seja o grande farol a nos apontar a estrada certa nestes tempos que, às vezes, nos parecem tão difíceis, nos ajude a viver a “fé nos desafios de nosso tempo”! É hora de erguer a cabeça e, a exemplo de São Sebastião e fortalecidos pela sua intercessão, caminhar sem jamais desanimar, pois o caminho se mostra a quem se dispõe a percorrê-lo.

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