Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Há 201 anos, num 7 de setembro, o Brasil celebrava sua independência — um convite que nos leva a refletir sobre a dádiva da liberdade e a responsabilidade que esse momento traz consigo.
Assim como Moisés liderou os filhos de Israel rumo à terra prometida, nosso país trilhou seu caminho em busca da independência, rompendo as correntes da opressão e da tirania. Foi uma jornada abençoada pelas mãos de Deus, que nos permitiu florescer como uma nação soberana.
Mas, como nos ensina a Palavra Divina, a liberdade traz consigo a responsabilidade de cuidar dos mais vulneráveis entre nós. Assim, recordo-me das palavras de Jesus Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). É uma mensagem que, no contexto dessa data, nos lembra que nossa independência não é completa até que todos os nossos irmãos e irmãs tenham a liberdade de gozar de boa saúde.
A saúde é um dom precioso de Deus, e é nosso dever assegurar que todos tenham acesso aos cuidados de saúde de que necessitam. Não se trata apenas de uma questão política, mas também uma questão moral e espiritual. Quando garantimos o acesso universal à saúde, estamos cumprindo o mandamento divino de amar e cuidar uns dos outros.
Em nossas Escrituras, encontramos muitos ensinamentos sobre o cuidado e a responsabilidade que devemos cultivar uns com os outros. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). É uma mensagem que transcende todas as fronteiras. A saúde é um aspecto vital desse amor ao próximo. Quando alcançamos a independência, sempre é oportuno reforçar, também assumimos a responsabilidade de cuidar da saúde de nosso povo.
Infelizmente, dois séculos após a Independência do Brasil, vivemos em um país com profunda desigualdade. Com pessoas vivendo nas ruas, esquecidas, sem ter o pão, a água, o teto. Enfrentando o frio e, a pior das dores, a indiferença. Devemos lembrar que não podemos virar as costas para quem sofre, pois, Deus está nos abandonados.
Devemos trabalhar para garantir que todos tenham acesso a um abrigo, alimentos, meios de prover suas vidas com independência e, principalmente, saúde, pois dela decorre todo o resto, toda a felicidade. Não há alegria na dor. Não há sorriso na enfermidade. Por isso, Jesus Cristo curou os doentes, fez o cego enxergar. A Igreja, na sua opção pelos mais pobres, traz entre nós essa mensagem que vem d’Ele. Recordemos a importância da Santa Igreja nos cuidados aos doentes, na sua luta história para cuidar dos doentes, quando criou casas de saúde, as santas casas, que ainda hoje exercem um papel determinante para reabilitar os enfermos.
Somos uma nação independente que ainda busca superar as mazelas que nos condiciona a lutar e lutar por quem mais precisa.
Por isso, meus irmãos, celebremos sim a nossa nação Independente, sem nos esquecer que ainda temos uma dura e necessária missão: construirmos um país em que todos, na graça de sua fé, possam viver felizes e saudáveis.
Que nossa nação seja um farol de compaixão, solidariedade e justiça, onde todos possam desfrutar da liberdade não apenas de serem livres, mas também de serem responsáveis.
Que a bênção divina continue a iluminar nosso caminho, guiando-nos na jornada em direção a um Brasil onde a independência e o acesso à saúde andem de mãos dadas, para a glória de Deus e o bem-estar de todos os seus filhos.
Saudações em Cristo!