A Campanha da Fraternidade deste ano trata da segurança pública. O tema é mais que atual e mais que urgente. Qual brasileiro não se sente totalmente inseguro hoje em dia? Nossos muros, pouco a pouco, foram crescendo à frente das nossas casas, começamos a gastar muito dinheiro com interfones, câmeras de vídeo, aparelhos cada vez mais sofisticados de proteção, guardas que temos que pagar para ficar apitando a noite inteira ao redor de nossas residências; uma série de outras medidas foi entrando devagarzinho em nosso dia-a-dia. Já é fala comum que, hoje, as pessoas de bem ficam encarceradas em casa e os bandidos soltos. Mas, é de se perguntar também: por que o número de infratores da lei tem aumentado tanto? O que falta a esta sociedade que não é capaz de formar sua juventude para o bem, para o respeito ao alheiro, para o amor à vida e à paz?
Qual é a razão de, nos últimos dez anos, ter crescido assustadoramente a criminalidade no País, a ponto de as cadeias não caberem mais e a ponto de crimes antes quase nunca vistos se destacarem? Pais que matam filhos, filhos que matam pais, menores que matam à mão armada e impõem medo nas esquinas e nos semáforos!
Como anda nosso sistema de ensino na rede escolar pública? O sistema está, de fato, formando pessoas humanas para o convívio social pacífico? Onde se encontra a primazia da ética, da moral, do respeito, da solidariedade, dos valores religiosos que moldam o sadio comportamento das pessoas?
O sistema prisional no Brasil, longe de reeducar o preso, para ressocializá-lo como pessoa digna, respeitável e respeitadora, tem se tornado uma verdadeira escola de criminalidade. Um indivíduo que foi condenado por crimes deveria sair da prisão melhor do que entrou e não pior, como, em geral, vem acontecendo. Enquanto os presos forem tratados como animais irracionais, nunca se vencerá o atual índice assustador da criminalidade. Enquanto não houver uma política eficaz de combate ao tráfico e ao consumo de drogas, o Governo nunca vencerá o crime organizado e, portanto, nunca haverá paz para a população.
Enquanto houver política favorável ao aborto, condenando à morte seres humanos inocentes a quem se nega o direito de nascer, mesmo quando há condições para que as crianças sejam protegidas e as mães amparadas, a sociedade não aprenderá a respeitar a vida alheia, nem a se reger pela solidariedade e nem poderá gerar a paz.
Propõe-se, outra vez, a novidade do evangelho de Cristo que indica caminhos diferentes, racionais, de elevado nível para a solução dos conflitos, objetivando uma cultura de paz. Duas cenas dos evangelhos podem ser evocadas para ilustrar esta lógica: a primeira é da prisão de Cristo no Horto das Oliveiras, quando lhe sai em defesa o discípulo Pedro e fere um dos soldados, cortando-lhe a orelha. Cristo repreende a Pedro: embainha a tua espada, pois quem pela espada fere, por ela perecerá (cf. Mt.26, 51; Jo. 18,10), curando ainda o soldado ferido, numa demonstração de que o mal se paga com o bem. A segunda cena é do alto do Calvário, quando Cristo, em vez de castigar seus algozes, reza por eles: Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem. ( Lc.23,35).
O problema da segurança pública é do Governo, pois ele deve garantir paz para todos. Nós, com nossos impostos, o pagamos para isto. Porém, o problema não é só do Governo. É de todos. Se não educarmos nosso povo, nossas crianças, nossos jovens para que busquem solução para os conflitos através do diálogo, da compreensão, da solidariedade, do respeito pela vida desde a fase intra-uterina, se continuamos a resolver problema nos lares, nos grupos, nas vizinhanças, na política, na sociedade através dos meios violentos, da vingança e do ódio, nunca teremos paz. Se faltam condições dignas de vida, de trabalho, de sustento, nunca teremos paz.
Somos convidados à união contra a atual insegurança pública, dispostos a criar um país mais justo e mais fraterno, pois “ A Paz é fruto da Justiça” (Is.32,17).